terça-feira, 9 de outubro de 2007

retalhos da vida de toda a gente

[267]

antónio lobo antunes (mesmo que ele não goste de saramago - que eu gosto - e que mesmo sem ler nada deste senhor, respeito e cito) falando sobre a sua doença (cancro):

"[...]Sente-se mais livre?
Foi muito difícil. Enfim, muito difícil é exagero...

Exagero porquê?

Porque, ao lado, vi pessoas que estavam muito piores que eu. Pessoas sem esperança, à espera da morte. As minhas hipóteses eram grandes e, por isso, às vezes, sinto-me culpado. Mas é verdade que me sinto mais livre, sinto-me muito mais livre. Livre para escrever, livre para viver, livre para amar. No outro dia, com os meus irmãos, disse ao João [o neurocirurgião João Lobo Antunes] que ele tinha escrito um texto muito bonito. E um deles comentou que nós não dizemos essas coisas uns aos outros. Eu agora digo, eu agora digo. E isso foi uma conquista porque, de repente, tornou-se evidente que esta é a única maneira de viver. Claro que tem que haver dignidade, e que não podem existir pieguices, mas acabaram-se as contenções. O meu avô morreu e, ainda hoje, sinto remorsos por não lhe ter dito que gostava muito dele. [...]"
[entrevista à visão]

parece-me que há algumas coisas interessantes nesta afirmação. primeiro é sem dúvida verdade que senti da mesma forma aquilo que ele diz. há pessoas ao nosso lado a sofrer muito mais. se carregas uma cruz, pois então ela não é mais pesada que a do vizinho.

e depois porque também eu senti remorsos por o meu avô ter morrido sem eu lhe ter dito o quanto gostava dele.

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