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(cada vez que vejo o sol a nascer daquele lado da estrada já sei que é tarde...muito tarde para aproveitar o dia. o dia alegre tem que ser o dia em que quando abrir os olhos, o brilho entre pela minha casa. me dilua as sombras dos objectos que me interrompem os sonhos. o escuro é que molda esse espaço que se torna mais vazio. e eu sei que se nascer daquele da estrada, o sol já é frio. e o fresco da tarde, declina os tons verdes, exalta o défice de destreza.)
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há dias em que queria acordar com o sol daquele lado da estrada. o outro.
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(bem sei que se o sol entra nesta janela, já não vou ver a menina dos olhos verdes. ela passa em corrida todos os dias e dá um sorriso, fugidio (forçado?) para que eu perceba que ela sabe, que eu a estou a ver. e eu sei que ela hoje não passa. ou já passou.)
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um dia vou-lhe dizer que ela é um vento forte que me acorda do imenso adormecido em que mergulhei.
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(depois não há tempo pra ir atrás do autocarro ou pedir boleia. se fosse, quando chegasse à cidade estaria na hora de voltar e depois já não haveria sol. e que piada teria esse dia? por isso quando acordo com o calor deste lado da cara, não sou eu que acordo. deixo-me estar em descanso dentro de mim. não vou desgastar este outro mais fraco. avança o meu espelho que é bem mais forte para aguentar os desgostos que eu sinto.)
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um dia, quando for sábado, levanto-me e acompanho-a. juro que um dia dou mais um desgosto a este meu eu mais preguiçoso.
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