Fins da década de oitenta, inícios de noventa. A sexta-feira à noite era sagrada. Parece que ainda agora me estou a ver a caminho do clube de vídeo com cem paus na mão para alugar uma cassete. Fazia da minha sala o meu “Nuovo Cinema Paradiso”, que é hoje um dos filmes da minha vida. Era sempre assim, podia alugar um filme para o fim-de-semana mas era à sexta que eu tinha de o ver. Não podia esperar nem um segundo. Quando gostava repetia vezes sem conta e só não podia esquecer a devolução à segunda à noite para não pagar a multa, já que a mesma dava direito a castigo, ou seja, no fim-de-semana seguinte não havia filme para ninguém.
O critério da escolha era sempre o mesmo. Pelo menos um dos seguintes ingredientes tinha de constar no menu: tiros, comédia, acção, soco nas trombas, aventura, ficção científica, terror, enfim… Quase tudo marchava! Só não alinhava muito naqueles dramas cheios de diálogos e pouca acção. Eu queria lá saber na altura que o “Kramer contra Kramer” é um bom filme ou que a “Norma Rae” bah… Isso eram filmes para maricas!
Por vezes a escolha era quase aleatória e baseava-se nas imagens da capa ou nos comentários de um amigo que já tinha alugado o mesmo título, “Aluga o do Trinitá que é fixe!”. Qual revista semanal acerca de cinema. Na rua aprendíamos tudo o que precisávamos de saber acerca dos filmes! Por vezes, sem que o soubéssemos, o filme até vinha com bónus: MAMAS!
Quem é que, da minha geração, nunca alugou um Comando, um Predador, um Porkys, um Gelado de Limão… Só nunca cheguei a alugar “O Espião do Sapato Vermelho”, mas é um daqueles títulos que me persegue. Entro num clube de vídeo e lá está ele a rir-se para mim. Hah, quase me esquecia do "Jack Burton nas Garras do Mandarim”, do “E.T.” e do “BIG”. Digam lá rapazes que o Big não mexeu com as vossas fantasias, vocês sabem do que eu falo! Poderia continuar para aqui a lembrar filmes, que nem ao diabo lembram, mas vamos em frente que o post já vai longo.
Estes dias, enquanto passava perto de uma pensão, em Bissau, apercebi-me da quantidade de putos, que estavam à porta com umas caixas de madeira na mão, a olhar para o que se passava na televisão. Pensei ser mais um jogo de futebol. Cheguei-me perto deles para ver quem estava a jogar e, qual não foi o meu espanto, dou de caras com dois dos meus velhos heróis, “Bud Spencer e Terence Hill” em mais uma das suas aventuras, produto de um cinema italiano feito à moda americana, em inglês e tudo… Até as legendas estavam em amarelo, bem ao estilo dos bons velhos tempos dos clubes de vídeo. Não me recordo do título do filme mas lembrei-me de algumas cenas. Eu também já o tinha visto há uns bons anos.
Que daqui a muito tempo também eles se recordem desses momentos de pura magia. Recordações que serão um Oásis no meio de tantas outras em que as únicas memórias serão os sapatos de desconhecidos e o cheiro a graxa que, todos os dias, é o instrumento do seu trabalho.
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Cinema Paradiso
Publicada por Pedro Indy à(s) 00:57
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2 comentários:
Será "O meu nome é Trinity"???
Bem, nem começes com o revivalismo senão vamos ter muuuuuuuuuuita conversa! Não consigo deixar de pensar que daqui a muitos anos iremos para a era (dos "bifinhos") com o mesmo genuino regozijo com que retrataste a era do VHS! Aquele abraço intercontinental!
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