terça-feira, 20 de novembro de 2007

"Nós somos como qualquer familia." (Tony Soprano)




Já muita coisa foi dita, e escrita, sobre a extraordinária série "Os Sopranos" que a RTP-2 tão honrosamente soube respeitar e acarinhar (sem as típicas repetições desnecessárias e horários absurdos a que são condenadas as outras séries congéneres) e este carácter de série de excepção, torna-se por demais evidente se pensarmos nos galardões (vinte e um (!!!) Emmy awards e cinco Golden Globes) com que já foi laureada, no entanto, a riqueza da história da série, as suas nuances e complexidade tornam pertinente uma análise mais detalhada a alguns dos seus aspectos.



Desta forma, é necessário fazer algumas ressalvas, em primeiro lugar, o facto de quando vermos os Sopranos termos a noção de que não estamos a observar um episódio esparso e perdido inconsequentemente numa qualquer linha narrativa, muito pelo contrário, os Sopranos foram concebidos como uma espécie de longa-longa metragem, para ser digerida muito, muito devagar (como quem prova um bom chocolate, ou um bom vinho!) em segundo lugar, a série pedir uma invulgar fidelidade (foram muitas as semanas em que me sentei religiosamente no meu sofá à segunda-feira, esperando pacientemente pelo momendo de revisitar a Jersey dos meus (anti) heróis) para mantêr a necessária e fluente continuidade dos seus arcos-narrativos, como quem abre portas que dão acesso a outras novas portas, sem nunca saltar etapas.



No seu inicio, David Chase, teria imaginado a série como uma espécie de telenovela de Gangsters ao bom estilo de Goodfellas de Scorcese (influência nunca reprimida, mas antes pelo contrário sublimada com grande ostentação) embora polvilhando-a com algumas idiossincracias de autor, nomeadamente, a psicanálise e todo a carga onírica freudiana, o "generation gap" entre pais e filhos e por último, o golpe de génio, a sublimação de uma relação distorcida e plena de ambiguidades entre uma mãe ( a maquiavélica e intratável Livia Sopranos/mãe de Chase) e o seu filho (o enternecedor e impiedoso mafioso Tony Soprano/o próprio Davis Chase).




Uma série sem paralelo, feita de todos os condimentos de um bom braciole (é fundamental o papel da comida na série tal como é na nossa vida, enquanto elo insubstituivel de união entre culturas e familias, até as da máfia) cuja receita percorre desde a mítica "mother-land" italiana plena de tradições e omertás perdidas até á America, suja, imoral, ambigua e perigosa dos dias de hoje, havia nascido e com ela a televisão unca mais seria a mesma... (continua)

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