segunda-feira, 29 de setembro de 2008

eu o indústria e o bar deslize

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eu, vocês sabem quem sou. o indústria é o colaborador mais intermitente que temos nas nossas fileiras. o deslize bar é que talvez alguns não conheçam.
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o deslize foi um bar que antes do 25 de abril era já um espaço onde se conspirava contra o regime. sempre por ali se cruzaram os movimentos e pessoas mais outsiders da sociedade. e em braga sempre existiram pessoas capazes de lutar pelos seus ideais. por ali passavam vozes anónimas. vozes que poucos tiveram visão de perceber a grandeza.
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não falo das nossas vozes. o deslize para nós era um espaço de experiência. enquanto jovens, tinhamos o direito a ir à missa ao domingo e também tínhamos o direito de conviver com ateus e acérrimos críticos da igreja católica. tudo isto vem a propósito de uma conversa que tivemos (eu e o indústria) em tempos no deslize.
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era um bêbado que estava lá a falar sozinho e, segundo o indústria, falamos com ele durante bastante tempo. lembra-se de comentarmos que para bêbado até falava bem. esse ilustre morreu com obra editada. foi o próprio herberto hélder que consegui que ele editasse os seus poemas na assírio e alvim. morreu atropelado por um condutor que fugiu, e ao que parece ninguém identificou. vivia no adro de uma capela. foi com espanto que recordei essa história porque não me lembrava dela.
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privamos com o sebatião alba, que escreveu isto,
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ninguém meu amor

Ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
Mas ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam
vendando-nos os olhos

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