sexta-feira, 27 de julho de 2007

Viagem ao sul

(o sol na planície alentejana magoa. os olhos, a pele e alma. seca ao ver de longe. alma que seca ao ver a paisagem de perto. secamos. e dói. dói que se farta. por isso estas caras são assim. carregadas. os olhos desta gente não passam emoção. mas nós seguimos viagem com os vidros abertos. para nós é só de passagem e o que secar há-de um dia voltar a viver. a amargura que se entranha em certas alturas, fica. cravada na boca e nos lábios. não são marcas vivas. somos nós que sentimos, ao falar, que corre no ar algo de estranho. mas nós seguimos de vidros abertos. e sorrimos. falamos pouco. somos sempre assim a apreciar a paisagem. nada dizemos. olhamos como invejosos compulsivos que querem ver, a sós. nunca quisemos ser um só. tu e eu não quisemos. somos mais felizes assim. como com o vento que entra e sai e volta a entrar no carro. seguimos de vidros abertos. procuramos o espelho da água. e estivemos com ele. mas não foi bom. é grande demais e não gostamos de grandes obras. gostamos de coisas simples e pequenas. comemos batatas e bebemos vinho tinto. desta planície que fez corar os lábios. Pelo sabor estranho, diria que já não sairemos daqui os mesmos. levamos mais tristeza em nós. mas ainda assim dormimos. muito descansados.)

não deixei o vidro do carro aberto?

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