Zidane, é mais do que um nome próprio, o seu carácter onomástico encerra uma significação estranhamente musical (como se o próprio nome fosse um resquício élfico de uma linguagem superior) assim, como que uma feliz conjugação onomatopeica de silabas, capaz de desafiar o descontrutivista mais dogmático encerrado em cada um nós.
Se o futebol é uma metáfora para a própria vida, que vive do movimento perpétuo das suas órbitas elípticas, ornamentadas pelo peso de lendárias vitórias e dantescas misérias, a forma como Zidane desvelou (no sentido ontológico do termo) a condição de semi-Deus nos pés de um mero mortal de pátria miscigenada, é uma verdadeira e irónica ode (filosófica) sobre o superior valor da vida humana, a que nem um cínico inveterado como Voltaire ousaria acrescentar uma virgula!
A virtude do jogo de Zidane começa, antes de mais, no seu olhar, sobrenatural, glacial e intimidante como o de um tigre siberiano. Os seus olhos perscrutam linhas e passes imaginários, com a certeza e rapidez alguritmica que desafiam constantemente a máxima de Einstein, a luz foi ultrapassada inúmeras vezes quando Zidane foi capaz de fazer aquele passe impossível antes de ser derrubado, ou quando rematou de um ângulo impossível ou quando fez o mais aquele drible, e que drible...
Quando Zidane olha, temos uma sensação de vertigem como se os seus olhos observassem mistérios insondáveis que para nós se tornam inacessíveis, quando Zidane pisa o relvado, sentimos uma certa impaciência, como se estivéssemos na eminência de experiênciar o sublime.
Solta-se a bola que percorre claustrofobicamente um rectângulo mágico, capaz de vergar a vontade dos mais resilientes, de destruir as quimeras dos mais idealistas ou de transcender a estreiteza dos mais pragmáticos, mas contigo é diferente, a bola respeita a vontade de Zidane, anuindo com subserviência à sua inspiração real e divina.
O campo de futebol é uma arena para todos os outros, mas para ti Zidane, é um Hades divino onde te recreias infundido pelo espírito do génio de filósofos e de outros excelsos heróis!
Por último, penso que em pleno mundo falocrático, todas as conversas sobre futebol deveriam começar e acabar com a evocação do teu nome, Zidane! (em jeito de interjeição sagrada)
Notas de rodapé:
1) Desconstrutivista- laconicamente, corrente que defende a correspondência arbitrária entre a fonética das palavras e a sua significação;
2) Desvelar- Tirar o véu, descobrir;
3) Ontologia- Ramo de Filosofia que versa sobre o estudo existencial.
terça-feira, 30 de outubro de 2007
A insustentável leveza de...Zidane!
Publicada por Onun Ras Al Gull à(s) 18:39
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4 comentários:
E eu que pensava que era só um careca que manda cabeçadas....
Ela há cada uma.
Para os amigos que discordam da minha opinião, sugiro o seguinte pensamento:
"Que é então o perseguidor? É aquele cujo orgulho ferido e o fanatismo em furor irritam o príncipe ou magistrados contra homens inocentes , cujo único crime consiste em não serem da mesma opinião."
Voltaire
P.S. Para melhor comprensão do fenómeno, aconselho o intrigante documentário "Zidane: um retrato do século XX"
eu defendo que o homem disserte sobre a origem do seu nome...vai entroncar em qualeur parte da argélia de certeza...
:)
UM ABRAÇO AO CAMUS DE BRAGA
Óbvio que o mais acertado seria chamar-lhe Milan Kundera, mas esse tem nome de jogador e confundia mais o pessoal..
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