segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

os dias antigos

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tive dias em que trabalhar era um prazer enorme. não havia ali nenhum esgar de esforço que fosse sinal de exasperação. eram dias agradáveis à vista, ao tacto e aos sentidos que inventei. eu não senti qualquer tipo de criação naquelas passagens. eram as cadências que iam aos poucos desvanecendo, sem pressa ou pressão. o conta-gotas esvaziando, sem que ninguém corrresse a virá-lo do avesso.
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no rádio passou um excerto de fernando pessoa, porque seria traduzido em espanhol, ou catalão, já não me lembro. dizia assim com o respectivo sotaque,
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" [...] Errei a porta do sentimento, [...]
Hoje não me resta (à parte o incómodo de estar assim sentado)
Senão saber isto:
Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Grande é a vida, e não vale a pena haver vida.
[...]"
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é verdade. o tempo passa rápido e nós nem lhe damos razão. embora ele tenha sempre.

1 comentário:

Teté disse...

Por muito que goste de Fernando Pessoa - e gosto! - tu podes "lutar" por alguma coisa, enquanto ele não podia.

Não lhe deram muito espaço entre o nascer e o morrer, e mesmo assim alucinou-nos com a sua obra poética, no intervalo!