quarta-feira, 20 de agosto de 2008

numa sixty-six qualquer da europa

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confesso que não seria igual a mim mesmo se não regressasse de uma forma pouco ponderada. a imagem que tenho na cabeça, mesmo estando embrenhado na papelada, nos acertos de horas, nas marcações de reuniões e em todo o trabalho de campo a que será necessário regressar em força, é a de um crepúsculo. perdido numa estrada qualquer entre munique e zurique.
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viajava há quase duas horas e nem um único sinal de cansaço me pesava nos movimentos. nem mesmo quando reparo que só o silêncio dentro do carro parece enamorar a música. seguem todos de cabeça tombada, sabe-se lá bem onde, a pensar ou a sonhar em quê. eu sorrio perante o sol que se vai escondendo entre as montanhas e umas núvens alaranjadas sujando o céu quase sempre imaculado. graças a isto percebo que sou filho desta hora, sim eu nasci às sete da tarde. é a hora do crepúsculo.
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não sei no que pensei a seguir. a fugacidade do momento sublime fez-me entender finalmente o que significa on the road. captação de momentos únicos.
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não tive tempo de regressar. procurei em vão, diga-se em abono, recolocar-me neste meu mundo. ainda não encontrei o caminho de volta. embora já tivesse a prova suficiente de duas verdades. uma delas é que me encontro de portas fechadas, outra, que tenho janelas semi-cerradas. mas a isso tenho tempo de regressar.

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