quinta-feira, 26 de março de 2009

a urgência do eterno

[1613]

nunca é demais exigir o tempo-vital. assusta-me a falta de eternidade, aliada à premissa da morte como dado adquirido. partindo do princípio de que estamos de agulhas acertadas nisto, passemos então a questionar o que nos faz falta para sermos felizes.

de mim sei eu, e cada um sabe de si. ao ler saramago (coisa que pouca gente faz, mesmo que seja um autor que vende como pão) apercebo-me que estou a atirar para os meus pés o peso do que deveria exigir apenas no futuro. deveria concentrar-me apenas no amanhã. tão simples como descascar uma cebola sem chorar.

" [...] Ora, enquanto se acaba e não se acaba o mundo, enquanto se põe e não se põe o sol, por que não nos dedicaremos a pensar um pouco no dia de amanhã, esse tal em que quase todos nós ainda estaremos felizmente vivos? Em vez de umas quantas propostas arrojadamente gratuitas sobre e para uso do terceiro milénio, que logo ele, mais do que provavelmente, se encarregará de reduzir a cisco, por que não nos decidimos a pôr de pé umas quantas ideias simples e uns quantos projectos ao alcance de qualquer compreensão? [...] "

via [o caderno de saramago]

um dia vou conseguir desligar esta minha forma de viver agarrado ao futuro, hei-de desacorrentar-me da máxima que vigora no meu palimpsesto, a de que tudo o que faças hoje terá consequências inevitáveis no futuro. que se lixe o futuro, a partir de hoje viverei apenas a pensar no amanhã.

mas eu sei é de mim. e cada um sabe de si.

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