quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

2009

[1433]

O mais importante na vida
É ser-se criador — criar beleza.

Para isso,
É necessário pressenti-la
Aonde os nossos olhos não a virem.

Eu creio que sonhar o impossível
É como que ouvir uma voz de alguma coisa
Que pede existência e que nos chama de longe.

Sim, o mais importante na vida
É ser-se criador.
E para o impossível
Só devemos caminhar de olhos fechados
Como a fé e como o amor.

António Botto


porosidade etérea

eu quero mais poesia para o próximo ano. quero mais vontade de ler e quero que ela me mostre mais. quero que cumpra os requisitos mínimos de um ano que nem quero seja grande coisa. normal está bom. assim-assim também serve. mas se tiver de ser uma merda, assim seja. podia pelo menos era ocorrer-lhe trazer-me vontade.
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o primeiro de 2009 será este livrinho que passo a citar (desta menina),
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Ode metapoética
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e quando perco todos os poemas é à tua boca que vou recolher
o segredo
da minha armadilha e o escândalo dos cadernos a recuar o
incêndio
pelas páginas e páginas de um amor dá-me vontade de brincar,
mais um pouco, com a plasticidade do meu corpo em recados
de esquecimento
para o teu. e quando perco um só poema, nesse caso, vou pela
porta de emergência
atirar-me a teus braços a rir muito da minha imbecilidade, com
os pés frios
escondo a origem do meu pudor e a espiral da perda torna-te
menos confiável,
todos os teus músculos se confundem com o movimento de um
verso em queda livre.
juro que quase te poderia voltar a mar se recuperássemos
o trajecto dos papagaios de papel da nossa levíssima tragédia.
quando digo que é a ti que me dirijo, um acidente acontece no
mesmo instante
sem ser preciso sair deste lugar de merda que te silencia à razão
de uma perda,
vejo agora, absolutamente disforme, nas linhas miseráveis por
que me coso
até tudo começar a ser esquecido na azulácea ferida
por te ter inventado aqui a suprir todas as outras faltas.

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roubado daqui [insonia]
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se gostarem leiam a análise no blog [volumen]
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depois podia trazer a espaços, não que seja imprescindível, amostras de amor. não sei bem de que forma, mas pode trazer-me como bem entender. pode trazer daqueles bem explicados pelo blog [avatares de um desejo]
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depois traga para toda a gente. gosto de ver o pessoal de bem com a vida.
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eu passarei o ano a pensar que tenho razão na descrença. e a ouvir esta música vezes sem conta.
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I met a girl who sang the blues
And I asked her for some happy news,
But she just smiled and turned away.
I went down to the sacred store
Where Id heard the music years before,
But the man there said the music wouldnt play.
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And in the streets: the children screamed,
The lovers cried, and the poets dreamed.
But not a word was spoken;
The church bells all were broken.
And the three men I admire most:
The father, son, and the holy ghost,
They caught the last train for the coast
The day the music died.

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oiçam aqui a [música]
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espero-vos daqui a uns dias. eu estarei igual de certeza (com a variante de estar mais próximo com um email novo para reclamarem à vontade - está ali ao lado).
um 2009 em grande para vocês

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

a midnight valium for a good night sleep * [7]

[1432]
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podia dizer mais que muito sobre o pouco que me interessa explorar. não vou fazer isso, é maçador, o tema não precisa de textos extensos, precisa antes de simplicidade e de muita contenção. não é que seja segredo o que penso sobre isto, mas mesmo assim há tão boa gente que não pára um só segundo para pensar no desfile que nos entra olho dentro, na falsificação do sentir, na maquilhagem da alegria, no pó de arroz que se espalha a esconder a vergonha de não saber encontrar nada no fundo da alma. ou se aprende a distinguir isto ou então até se passa a gostar.
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não é recriminar ninguém, muito menos julgar condutas, é o que penso e pronto. não me ponham à prova em coisas que eu próprio admito não dominar ou compreender. simplesmente assumo a minha própria fragilidade, a dificuldade da definição, o não conseguir agarrar esse efémero fio condutor do amor. serve este momento para esclarecer com mais pormenor o que penso sobre os quejandos caminhos da paixão.
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não faço contorcionismo (quando eu estiver feliz da vida ninguém o irá notar), porque isto do amor é como na solidariedade, dá-se mas não se mostra.
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"I'll give you all I got to give if you say you love me too
I may not have a lot to give but what I got I'll give to you
I don't care too much for money, money can't buy me love."
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beatles
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* sutítulo do blog [vontade indómita]

Dos Camurcinas


a midnight valium for a good night sleep * [6]

[1430]

costumo dizer que há duas coisas que corrompem a moral da sociedade, mulheres e dinheiro. a uma destas causas ainda não consigo ser imune.
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* sutítulo do blog [vontade indómita]

comemorações

[1429]

este blog foi considerado o melhor em termos colectivos, da cidade de braga. ah, pois é. e é um prémio isento entregue por pessoas que até nem são estimadíssimas por mim nem nada. um grande abraço ao pessoal do fontes do ídolo. a escolha do livro do ano também me agrada.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

god damn right its a beautiful day [7]

[1428]

pedes-me o mundo assinado em poema e eu
para o escrever sento-me nos cordéis do teu cabelo,
os que estão nas alturas dos sonhos.
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depois dali aprecio o corpo.
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nos teus olhos as lágrimas
evaporadas condensam-se em núvens. desço a elas
ouvindo o silêncio dos homens, que sobe dos lábios,
onde se enamoram as copas das árvores.
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no peito enredam-se as folhas e os ramos,
para as andorinhas poisarem a anunciar essa primavera. ali paro a escutar
o maravilhoso canto do renascer da aurora boreal.
precipitam-se as descidas dos vales, e embalado
me entrego a esta terra de divinos poderes e desejos
proibidos.
os teus pés assentes como a raiz seguram-me
embalado no rumor do centro da terra.
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em uníssino o coração bate em breves instantes
descompassado, entrando em contratempo com a
harmonia do agreste arrastar do vento. assim me sento
à sombra de ti, no verão que há-de ser o estio do meu amor.

god damn right its a beautiful day [6]

[1427]
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Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.

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Sophia de Mello Breyner Andresen
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roubado daqui [o polvo]
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god damn right its a beautiful day [5]

[1426]

quando perceberem que o sexto sentido é o amor, então o mundo dará um passo em frente, maior e mais importante que aquele dado pelo homem na lua.

god damn right its a beautiful day [4]

[1425]

eu digo as coisas e as pessoas não acreditam. depois surpreendem-se como se o princípio da mentira imperasse em tudo o que fazemos. é o estranho mundo de S.G.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

a midnight valium for a good night sleep * [5]

[1424]

quando dei por mim, já o projecto tinha sido aprovado nas especialidades. desatei a partir as paredes do meu interior. todas as divisões, queria ver a luz a entrar no meu peito, a partir dali só open space. nada de cantos a acumular pó e lixo. nada de dias perdidos a limpar, a aspirar.
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só agora dei pelo erro. a solidão ecoa nas paredes e ensurdece.
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quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

incenso, mirra e ouro [5]

[1423]

polvo cozido com molho verde. bem regado com azeite e vinagre.
uma posta de bacalhau com grelos, regado com azeite fervido e cebola com alho.
eugénio de almeida, tinto. licor beirão. e pão de ló com queijo.
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desejo a todos uma ceia tão boa como a minha.
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(telemóvel sempre à mão para retribuir as mensagens)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

ouro [4]

[1422]

ao meu avô, que há muitos anos abria a porta de sua casa e me marcou com um natal rústico; à minha avó que me soube mostrar o verdadeiro sabor do natal, incluindo o sabor a borralho nas batatas, e dos pinhões acabados de sair da pinha; ao meu avô (sapateiro) que nunca soube que cortei um dedo por esses dias, mesmo depois de me avisar que me batia se me cortasse;
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a eles, onde quer que estejam, desejo um feliz natal.

mirra [4]

[1421]

a todos os visitantes, seguidores e bloggers (em especial aos que nos visitam religiosamente e que não vou referenciar, porque eles sabem quem são) e a todos os que comentaram, e perderam tempo no nosso cantinho.
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aos meus colegas de blog,
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um feliz natal para todos.

incenso [4]

[1420]

actualizando os desejos de bom natal, não posso deixar de referir outras pessoas que me marcaram de uma maneira ou de outra.
  1. o português com imagem à la che guevara, que no eléctrico de viena nos deu algumas indicações.

  2. a miúda do hostel de ljubljana, que em bom português (estudou no porto 6 meses) se riu dos nossa troca de galhardetes.

  3. a um senhor perdido nos campos onde a heidi andou (suíça), que num inglês macarrónico nos mandou para não sei bem onde (nem sei como saímos de lá)

  4. àquele velho que no hotel de praga entrava num ataque, esperando que esteja bem.

  5. a todos aqueles pedintes que, num ritual estranho, apenas pediam de joelhos e cotovelos no chão (praga)

  6. àquele funcionário do museu de auschwitz que vendo-nos no lado oposto da entrada principal, nos deixou entrar pela porta dos funcionários.

  7. aos aviões e ao carro que se portaram lindamente.

aos que me esqueci desejo também umas boas festas.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Nós por cá.

Há pouco uma rádio anunciava “José Mourinho volta a fazer declarações polémicas. Desta vez afirma que Ibrahimovic é melhor que Cristiano Ronaldo”

E eu pergunto, onde é que está a polémica?

Há polémica alguma em expressar uma opinião pessoal?

Ou será que agora existe uma lei qualquer que obriga todo o português a dizer que o Cristiano Ronaldo é o melhor do mundo?

Ou sou eu que estou muito burro ou então… é que acho que a avaliação de um profissional, de qualquer área, depende das suas qualidades enquanto tal e nunca da sua nacionalidade. E se o Mourinho acha o outro melhor… Qual é o problema?

god damn right its a beautiful day [3]

[1418]

a mulher determinou muitas das mudanças essenciais nos grandes acontecimentos históricos. boas e más, não as queremos avaliar por aqui.
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no caso de camilo castelo branco, que escreveu o amor de perdição (coisa que parece não ter sentido alguma vez na vida, pelo que dizem os analistas) foi muito influenciado pela sua esposa - ela também escritora para quem não sabe - invertendo muito do estilo do escritor. ao que parece quando camilo terminou a obra supra citada, ana plácido terá sido a primeira a ler e, com lágrimas de regozijo por ver o seu empenho recompensado, terá dito que aquele era o melhor do escritor,
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"escreves como se o mundo fosse acabar amanhã"
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eu para completar diria, escrevo porque o meu acabou ontem.

god damn right its a beautiful day [2]

[1417]

analisando à lupa o que me sobra como dádiva,
percebo enfim que doei 3/4 do meu coração.
no hard feelings. no regrets.
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procuro a minha ana plácido para quem,
o quarto que sobrou, é a melhor parte.

sábado, 20 de dezembro de 2008

god damn right its a beautiful day

[1416]

a história do elefante que viaja de lisboa a viena. a crónica desta semana (fontes de inspitação) no sítio do costume, o blog fontes do ídolo.
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sublinho esta frase,
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"Somos, cada vez mais, os defeitos que temos, não as qualidades." (pp. 147)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

ouro [3]

[1415]

no pico de ljubljana encontramos um casal português (gaia)
em trânsito para a capital da croácia, zagreb. umas simpatias
que me marcaram com uns sorrisos e desejos de boa viagem.
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a eles eu desejo o melhor natal de sempre.

mirra [3]

[1414]

no único país de que não dispunhamos de mapa no gps,
ao perdermo-nos, pela primeira vez no percurso de 3500 km,
pedimos uma orientação a uns jovens locais. e em inglês perfeito
conseguimos chegar rapidamente ao destino.
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a estes sei porque desejo um excelente natal.

incenso [3]

[1413]

na viagem feita de verão encontramos, numa manhã de partida,
uns rapazes que pareciam ter estado a noite toda a beber.
em cracóvia por esta altura estará a nevar, e na quarta será também natal.
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não sei porquê, mas desejo a esses rapazes um bom natal.

a midnight valium for a good night sleep * [4]

[1412]

a pátria sentimental.
nada como recordar aos incautos e desprevenidos, ou desatentos, que o estoicismo não se pode tornar numa inflexibilidade amoral. descerrar o pano no exacto momento em que a peça ainda vai no adro, é o mesmo que esquecer o auge, mesmo que depois venha a desgraça.
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" Há mulheres que não lutam pelo que querem, pelo que merecem. Abandonam os seus sonhos, os seus ideais, capitulando-se a tristes fantasmas e a emoções vazias de um passado do qual um dia fugiram. Há mulheres que não lutam pelo que querem, pelo que merecem. Desprotegem-se, baixam a guarda e ficam à mercê de fracas memórias. Desiludidas na longa espera da quimera romântica rendem-se por fim à banalidade, ao mundano que sempre contestaram e acabam traidoras da sua pátria sentimental.
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Há homens que têm o que não deveriam. São aves de rapina, abutres que pairam sobre os corpos estendidos e inertes à procura do momento certo para o saque e o esventramento. Há homens que têm o que não deveriam, que pilham a fragilidade alheia e se alimentam cobardemente dos despojos emocionais. "
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* sutítulo do blog [vontade indómita]

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

a midnight valium for a good night sleep * [3]

[1411]

há tanta gente que se diz perdida e responde por entre atropelos vagos de palavras, estou à procura do meu rumo, do meu norte. esta gente não sabe que as vertentes expostas a norte não recebem os raios solarengos dos dias. e lá continuam de bússula na mão à procura do ponto cardeal errado.
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na próxima vez responderei, desmagnetizem a vossa vida.
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* sutítulo do blog [vontade indómita]

Faltas dos Deputados do distrito de Braga

Podem consultar em http://www.parlamento.pt/ as faltas dos camaradas

  • VIRGILIO COSTA (PRESIDENTE DA DISTRITAL) - 117 FALTAS
  • JORGE PEREIRA (VICE PRESIDENTE) - 94 FALTAS
  • PATINHA ANTÃO - 53 FALTAS
  • MIGUEL MACEDO - 43 FALTAS
  • JORGE VARANDA - 31 FALTAS
  • EMIDIO GUERREIRO - 19 FALTAS
  • FERNANDO SANTOS PEREIRA - 2 FALTAS
Como é possivel governar um pais assim?

ouro [2]

[1409]

no dia da consoada, emprestando ao frio da noite
uma suspeita alegria, cerrou os olhos com força
procurando imaginar os desejos transformados em realidade.
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deu-se conta que tudo o que faz falta está à nossa volta.

mirra [2]

[1408]

dois corvos e uma andorinha, de preto lacado no corpo
atravessam o nevoeiro desabrido, cumprindo a tarefa
em véspera de natal com uma luz refulgente atada nas garras,
uma revoada nocturna de cantos anunciados.
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não se sabe se por descuido, ou engano (ou se ardeu numa lareira)
mas o presente não foi entregue ao destinatário.

incenso [2]

[1407]

de repente as tuas mãos como um ninho,
um ovo nascido do nada, e de um calor dedicado
pelo teu empenho nasce um coração
clonado pelos meus desejos inocentes.
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é isto um amor anterior.
um amor que já o era antes de o ser.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

ouro

[1406]

se porventura alguém me viu ontem em plena madrugada
a transportar uma caixa do carro para casa, descanse. não é contrabando.
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aliás o único produto contrafeito e de fraca qualidade era eu.
mas isso é culpa dos meus pais.
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mirra

[1405]

como sou pouco dado a festividades natalícias
decido não me oferecer nada este ano.
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não sei se mereço a prenda.
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incenso

[1404]

depois da festa de natal da empresa,
um cabaz de oferta.
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agora sim, começa a cheirar a natal.
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Isto também é futebol

Pedido de Natal

Este ano não escrevi ao Pai Natal. Enviei-lhe o pedido em forma de música. Pode ser que assim resulte melhor.

Quarta-feira e a Vida Selvagem


Não. Não vou falar do livro de Michel Tournier “Vendredi ou la Vie Sauvage” na versão original, que muitos tiveram a oportunidade de ler nas aulas de francês, aquelas aulas em que tínhamos medo que a professora nos mandasse ler parte da obra devido ao calibre de ”panilhage” que adquirimos quando pronunciamos qualquer palavra na língua de Molière. Vou falar da quarta-feira, ou seja, da vida selvagem.

O que é que a quarta-feira tem a ver com a vida selvagem? Lá chegaremos. Vamos antes de mais à quarta-feira.

Normalmente, na nossa mente, associamos determinadas cores ou formas às palavras que são ditas ou que pensamos. Em relação aos dias da semana não tenho dúvidas quando ao sábado ou ao domingo. O primeiro é um rectângulo azul claro e o segundo é um círculo amarelo. Mas a quarta-feira… é um dia que nem é bom nem é mau, quer-se dizer, é como o apêndice. Está lá e mais nada, nem se sabe ao certo para que serve.

Não sei especificar ao certo a sua forma mas imagino um emaranhado de traços castanhos, a fugir dos traços pretos da segunda e dos cinza da terça, a meio caminho dos traços amarelo-torrado da quinta, e o triunfal azul-escuro (nocturno) da sexta, aliás, o auge da semana fica mesmo ali, entre as seis da tarde de sexta e as duas da manhã de sábado. Um perfeito cubo azul-escuro. Diz que entre as duas da manhã e as oito de sábado também há esse cubo azul. Não sei. Normalmente a partir de uma certa hora vejo o cubo um pouco distorcido.

Voltando à nossa quarta-feira, contínuo sem discernir a sua forma exacta tal como o faço com outros dias e por isso vou tentar alargar o meu estudo a outros campos. Vamos tentar a via emocional. Qual a sensação que me transmite a quarta-feira… Acho que é esta:



Continuamos na mesma. Tudo neutro.



No campo sexual a quarta-feira pode ser equiparada ao momento em que se pára para meter o preservativo. Neutro.



No desporto a quarta-feira é o intervalo. Neutro.


Se é neutra em tudo…
Chego à conclusão de que a quarta-feira talvez tenha esta forma:



Um país onde grande parte da população vive actualmente numa permanente quarta-feira, com uma atitude neutra, passiva, adormecida.


E, enquanto aquele que tem nome de filósofo (apenas o nome) e a sua trupe tecem mil e uma maneiras de manter o povo na eterna quarta-feira, afastando a todo o custo a possibilidade de uma libertadora noite de sexta, cá vamos andando.


Acríticos como as espécies mais selvagens.

Neutros como uma quarta-feira.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

há filisteus no deserto

[1400]

ou os caminhos cíclicos do entroncamento da literatura.
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" [...] Fazes o caminho que só se pode fazer sozinho e de noite, pois todos temos um portão e um jardim para atravessarmos, sozinhos de noite, debaixo e sobre e entre o medo [...]"
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nenhum olhar (bertrand), josé luis peixoto, pp. 82
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" [...] vou buscar o meu coração. guardei-o aqui
algures e, por ti, tenho a certeza, vale a
pena voltar a encontrá-lo e correr todos os
riscos de novo. [...]"
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folclore íntimo (cosmorama), valer hugo mãe, pp. 20

Post no qual não se diz nada de jeito.

Hoje dei por mim a olhar para o mapa de um shoping. Não me perguntem porquê, parei ali e pronto, olhei para ele. Chamou-me a atenção o plano de emergência em caso de incêndio. Para mim só há um plano. Correr! Mas não, para eles há um plano hiper detalhado. Se eu estivesse no meio de um incêndio a tentar decifrar aquele plano de emergência... ora bem, acho que me queimava um bocadinho! Ele tinha setas verdes, vermelhas, um smiley a dizer "você está aqui" (viva a simpatia no meio das catástrofes), tinha mesmo tudo o que um gajo precisa de ler, durante meia hora, para depois se encaminhar em segurnça para a saída, que por acaso era ali a uns cinco metros.

Isso deixou-me a pensar noutra coisa!

Porque é que quando há um incêndio, uma fuga numa central nuclear, o lançamento de um míssil num filme do James Bond, uma cena de mamas num filme projectado no salão paroquial, se ouve sempre uma voz a dizer nos altifalantes:

"É favor evacuar o edifício. Isto não é uma simulação!"

Não acham que a segunda parte da frase era escusada?

ISTO NÃO É UMA SIMULAÇÃO!

Quer dizer que das vezes em que não avisam que estamos perante uma simulação, posso deixar estar as mãos nos bolsos e sair calmamente a assobiar a música do MacGuiver, à campeão!

Uma vez em Maximinos, no Liceu, houve uma simulação de incêndio, ou se quiserem, um simulacro. Simulacro soa mais a gajo entendido, tipo coronel dos bombeiros ou da protecção civil. Uma vez que o simulacro tinha sido avisado com antecedência de uma semana, aquela saída do pavilhão foi um verdadeiro circo. Se não me engano o S.G e o Onun Ras Gull também estavam na sala. Foi numa aula de Português. Estávamos no rés do chão. Era fácil, eu ainda tentei sair pela janela mas o professor não deixou. Tivemos de sair todos em fila indiana e passar pela zona onde estaria o suposto fogo!

Hoje, há distância de uns anos, compreendo a opção do professor. Ele era conhecido por adormecer nas aulas. Deve ter-nos querido mostrar o verdadeiro significado de passar pelas brasas.

domingo, 14 de dezembro de 2008

a babel do estonteante mundo novo

[1398]
.
o que mais gosto no inverno é o frio. hoje gosto menos, é verdade. entranha-se mais nas carnes ao de leve e instala-se rapidamente, entornado com uma força incontrolável, como se descesse lentamente até chegar aos pés (e depois dos pés frios ninguém está sossegado). sofro mais agora, neste adiantar da idade, de tal forma que já não sei se gosto assim tanto do frio do inverno.
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só com muito esforço vocês entenderiam o que esta introdução teria a ver com o resto do texto. é que isto aconteceu-me por estar aqui parado em frente ao computador. já procurei a mantinha que vai disfarçando este mal estar. já aproximei o radiador dos pés e nem assim consigo relembrar que um dia fui jovem (a minha mãe diz que deve ser da circulação)
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vale que vou lendo uns textos dos blogs de eleição antes de regressar aos meus companheiros recentes, nomeadamente este, e este (em boa hora fiz a assinatura) recentemente recebido em casa.
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o companheiro atento e já citado aqui algumas vezes, anuncia um novo cantinho a ler (e li o blog do principio ao fim). para além de não deixar de recomendar vivamente, devo retemperar forças porque há algumas coisas que nos deixam do avesso. algumas das palavras escritas pela autora, deixaram-me a pensar nos limites que temos de quebrar para tentar melhorar o que escrevemos. se por vezes o realismo me surpreende quando chega em escritos condizentes com a qualidade exigível, o patamar da poesia (ou da prosa-poética) que se desloca entre herberto e al berto (é o caso dos dois bloggers, curiosamente), feito de duras metáforas de sangue, não me permitem ver com clareza o caminho que quero percorrer (apesar de escrever para guardar no caderninho). e neste momento desculpo-me muitas vezes por não procurar desbravar certos caminhos que já deveriam ter sido calcorreados. na poesia é preciso ler tudo, tentando descobrir o destino das palavras que procuro, sendo que o prazer de as escrever deve ser o primordial objectivo. nisto de pegar nas cartas, baralhar e dar de novo (não há muito que não tenha sido dito) obriga-nos a estar numa vanguarda do nosso próprio conhecimento.
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agora retiro-me para um lugar mais quente (físico) e deixo-vos umas palavras que guardei da autora,
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sábado, 13 de dezembro de 2008

no natal o meu presente eu quero que seja

[1397]

matutei no presente que teria(mos) de dar a uma chefia por manifesta simpatia extra num processo rentável. sabendo que ele gostava de whisky, procurei relembrar as poucas vezes que eu bebi esse néctar. assim cheguei a um veredicto, o melhor que eu bebi foi,
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et voilá,
.

dimple 15 anos
.
(para mim só se fosse com mais de 20)

fontes de inspiração

[1396]

na entrevista de miguel esteves cardoso à revista ler de novembro (mais uma vez a maravilhosa entrevista), o entrevistador pergunta a mec se ele escreveu poesia,
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" Sim.Muita. Foda-se. Centenas de milhares de poemas. (e continua)
E o que o desencorajou a continuar a escrever?
Ser uma merda."
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se eu tivesse esse discernimento faria o mesmo e não escreveria estas crónicas semanais. fontes de inspiração no sítio do costume.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

a despedida no equinócio

[1395]

perguntaram-me um dia se acreditava na mudança ou reconversão das pessoas. sem resposta convincente, tenho pensado nisso insistentemente. não que me interesse muito por assuntos de índole maniqueísta, mas há sempre uma necessidade pertinente de pôr estas coisas no sítio, bem arrumadas, para o caso de um dia precisares delas.
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hoje, depois desse trabalho, acredito que não há nada a fazer por uma espécie de coração rebelde. é que a experiência provou-nos que a reciclagem só molda o produto, não lhe conferindo novas qualidades.
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um coração de papel reciclado volta em papel,
um coração de plástico reciclado volta em polímero,
um coração de pedra reciclado volta em pedra
(com muito boa vontade volta cascalho).
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a natureza pode ser moldável, nunca transformável. infelizmente para o meus sonhos idílicos.

julgados de paz [2]

[1394]

meu deus,
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bem sabes que a nossa relação não está no estado que poderiamos de apelidar de bom. apesar de tudo, e para que eu acredite nos teus poderes (facilmente detectáveis no andamento que ouvi hoje, trio com piano nº3 de mozart), gostava muito de te pedir que desses long live to the king.
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tu que consegues desbloquear essas negociações com a morte, sabes melhor que eu que o homem escreve agora com uma facilidade tremenda, dando a certeza de que merece uns anos a mais entre o mundo dos vivos. a questão premente é, sem rodeios da minha parte, estar na forja outro maravilhoso texto, dito nas palavras dele, nesta entrevista a um jornal espanhol.
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"Estoy con un nuevo libro, hoy he escrito la primera página", dice el escritor portugués en una nueva entrevista a fondo a 10 años de alzarse con el Nobel de Literatura. "La injusticia y el abuso de autoridad sobre el individuo son los motores de mi obra", sentencia."
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roubado do [blogtailors]
.
no fundo nada que não possas dar em troca, a bem da nossa reconciliação.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

largos dias têm 6 meses

[1393]

finalmente ontem (ao fim de seis meses) consegui tirar o cisco que me entrou no olho. tinha pouco mais de um metro e sessenta, cabelos escuros, e era linda de morrer (incluindo a formosura metafísica). não que me incomodasse, mas não me deixava ver mais nada.
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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

julgados de paz

[1392]


a minha relação com a fé, ou com deus himself, é uma espécie de casamento moribundo. ele dorme num quarto e eu noutro. nesta fase já nem conversamos.
.

y

[1391]

agora, um dos melhores suplementos dos jornais portugueses, o ípsilon (público), encontra-se on-line. eu comecei por ler esta entrevista. por muito que conheçam o meu apreço, tenho razões especiais extra, agora que terminei uma viagem à àustria nos costados de um elefante.
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e tu, queres cinema?

[1390]

assine esta petição pela justiça que trará à aplicação dos nossos impostos e por uma verdadeira descentralização da cultura. é que abrir três salas no porto é algo que não se comprende sendo braga a terceira cidade do país, para além de poder servir mais facilmente 500.000 cidadãos.
.
da petição,
.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

(re) citações

[1389]

" [...] Acho que há por aí muita gente incapaz de dizer adeus ao que realmente precisa dizer adeus. Passam a vida numa espécie de “até logo”, deixando sempre uma porta entreaberta para o que for preciso. São os mal resolvidos e resolvidas da vida. Uma porta entreaberta deixa entrar frio. Faz corrente de ar. Deixa entrar ladrões, pó, bichos, lixo. E raramente se abre para o que esperávamos. Portas entreabertas não me servem. Estou farta de as ir espreitar. Nunca serviram. Nunca.
Que se fechem as portas mal fechadas. Que se acabe com a corrente de ar. Que possa eu finalmente passar os meus dias descansada sem as ir espreitar de 5 em 5 minutos. [...] "
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Energúmenos

18h - Trofa - Café junto ao estádio do clube local - Ambiente: tranquilo, descontraído.
Esperava-se pela hora do jogo entre o Braga e o Trofense, aconchegava-se o estômago, assistindo pacatamente ao Guimarães-Leixões, partilhando o fim de tarde com alguns adeptos do Trofense e do Braga, repórteres da Sport TV, empresário de futebol e os simpáticos proprietários do estabelecimento. Tudo tranquilo!
18:15h - Chegou o comboio com centenas de adeptos do Braga.
18:30h - Acabou a tranquilidade do café, depressa encheu.
Não durou cinco minutos o ambiente, confuso é certo, mas alegre, com cânticos e palavras de incentivo ao Braga, algumas delas tão desconcertantes que provocavam o riso aos repórteres televisivos, mesmo estando por certo habituados a idênticos ambientes.
18:35h - Não faço ideia como tudo começou....
Olhava atentamente para a televisão, enquanto atrás de mim os cânticos se transformavam em gritos. Era a confusão total: dois adeptos do Braga, supostamente da claque dos Red Boys, agrediam o proprietário do café. Voavam chávenas, garrafas, cadeiras. Caíam inocentes, enquanto tentavam fugir, crianças e idosos, derrubando mesas e cadeiras. A porta do café, tamanha era a confusão, encravou por segundos, voltando abrir-se sairam também os gritos de duas crianças que assistiam ao desespero da mãe (proprietária do café) e ao linchamento do pai.
18:35h... mais uns quantos minutos (havia perdido a noção do tempo) - Chegou a GNR, os agressores já tinham dispersado, um militar dirigiu-se a mim e perguntou-me se estava bem - estou, respondi-lhe - mas não estava. Tudo se tinha passado perto de mais para que não estivesse chocado, revoltado, agoniado e com nojo daquelas bestas que se dizem gente...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

crepúsculo

[1387]

se não há nada a dizer
nada se diga.
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(o sol escondeu-se
no segundo de um suspiro)

domingo, 7 de dezembro de 2008

snow [7]

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sábado, 6 de dezembro de 2008

snow [6]

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fontes de inspiração

[1385]

a crónica semanal no sítio do costume. as cidades e as terras.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

snow [5]

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[...] quem aceita a ideia de sacrifício já aceitou a ideia do amor. O sacrifício não é apenas uma parte integrante do amor; o sacrifício é a própria definição do amor, porque é a suspensão do egoísmo. [...]
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" [...] ela não recusou o amor por ter recusado o sacrifício; ela fugiu do sacrifício porque foge do amor. Porque admitir a fraqueza é dar parte de fraca, e ela tem a paixão dos fortes. "
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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Fiz uma piada à Malucos do Riso. E resultou!

Aconteceu ontem quando entrei para almoçar num restaurante. Foi um daqueles momentos em que dámos uma resposta da qual nos orgulhamos, sem a ter preparado antecipadamente.

Entro no restaurante, algumas pessoas ao balcão, e diz-me assim o dono:

- Está por cá hoje? Não me diga que o pessoal de Braga é contra as greves!

Ao que eu respondo.

- O pessoal de Braga faz greve às aulas mas não faz greve de fome!

E pronto, gargalhada geral. Já posso dizer que fiz comédia num restaurante alentejano. Foi uma piada à Malucos do riso mas pronto...

p.s. - Não fiz aquela cara parva no fim do "sketch". Para não abusar.

os camurcinas segundo um coelho.

http://www.acapela.tv/Winter-1-bb701f3b8f5e7

é ele que diz, vale o que vale.

Toca a ganhar


À hora dos campeões - 19:45h - o S.C. Braga vai tentar a passagem á fase seguinte da Taça Uefa!
Na Holanda frente ao Heerenveen só interessa a vitória! Força BRAGA!!!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

o hiperconsumismo segundo s. g.

[1380]
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não deve haver pior pesadelo do que este de jorge de sena. de facto não poder aceder à cultura (apesar de não estar necessariamente ligado à falta de dinheiro) é um mal que não desejo a um inimigo. apesar de admitir que para algumas pessoas, o livro não é mais que um peso (pesado?) e, nessa justa medida, não mais que um castigo.
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eu próprio de tempos a tempos tenho uma relação estranha com os livros. neste momento tenho três casos pendentes (em duas vertentes). por um lado suspendi a leitura dos maias (deve ser uma maldição), suspendi o arquipélago da insónia e carta ao pai de kafka. estes são os momentos em que me questiono se não estarei com os gostos distorcidos, se maquinalmente não estarei a desviar-me de um caminho necessário de brumas silenciosas em que nos podemos perder nas escolhas literárias. agradeço que avisem se porventura acharem que sim.
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[só para completar este raciocínio deixem-me ressalvar que, não totalmente por minha culpa, tenho 3 livros zangados comigo. um porque o sublinhei - e os livros de poesia detestam isso; outro porque o manchei inadvertidamente com os dedos sujos; e outro ainda porque o emprestei sem o ter lido (e não é meu costume)]
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o meu objectivo primordial é essencialmente sentir prazer na leitura. não se espere contudo que quanto mais se ler, mais astutos iremos ficar. ou se, ao lermos muito, teremos capital moral superior a outras pessoas menos dadas a desperdiçar o seu tempo com isto. espero, apenas e só, que respeitem quem gosta da leitura (nos dias de imediatismo que correm podemos correr o risco de depreciar quem se dedica a este hobbie). assim como eu respeito quem não quer ler por opção. e respeito também quem encontra no espelho de uma qualquer fábrica de sonhos (vulgo loja de moda) o seu orgasmo intelectual diário. o que convém é que as pessoas não percam a noção de que estamos em definitivo numa era diferente que, não sendo nova, nem de maneira alguma original, será com certeza uma fase acérrima de viciação no consumismo.
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volto a falar nisto do hiperconsumismo para afirmar que é um problema que me atinge de sobremaneira. ninguém escapa. e por vezes cedo naturalmente. demorei a convencer o meu lado racional que teria de investir. nos grandes dias do desconto da fnac debitei mais uns euros na conta da megastore. eis a lista da perdição,
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a viagem do elefante, josé saramago
nenhum olhar, josé luís peixoto
myra, maria velho da costa
diário de um ano mau, j. m. coetzee
um homem: klaus klump, gonçalo m. tavares
a máquina de joseph walser, gonçalo m. tavares
balada da praia dos cães, josé cardoso pires
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vou só especificar o último caso. o livro do cardoso pires (uma obra que figura nos manuais como obrigatória do autor a par de delfim, custou 3, 87 €. com o desconto de 10% do cartão fnac passou a custar (deixem-me só terminar a conta...) 3, 483 €. some-se mais 10 % de desconto comemorativo do dia fnac, e dá a módica quantia 3, 135 €. fico uns segundos a olhar o número e não me ocorre dizer nada. (este camarada foi bastante irónico com o alvoroço do dia) apesar de tudo não vou revelar quanto gastei num aninho de fnac de braga. seria indecoroso nos tempos de crise que correm.
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é óbvio que também há quem compre para encher uma vistosa biblioteca de sala, e tem esse condão de dar emprego a algumas pessoas. (eu só o faço para ler. demore o tempo que demorar) e há também quem tenha em vista um grande negócio com certos e determinados livros que eu por acaso até tenho. veja-se este caso vendido em leilão por quase 70 euros. o meu custou 18.
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agora não me ocorre como espremer mais esta questiúncula pertinente. reflicto sobre isto para que não me esqueça de ter razões firmes em tudo o que faço. é que comprar faz-nos realmente bem. desde que não nos dispensemos de uma análise prévia da necessidade do que iremos comprar. mas isso é com cada um. não pensem que aqui por aqui se dão conselhos. escrevo só para passar tempo antes de ir jantar.
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" [...] O luxo se desenvolve, porque ele vem compensar a falta de sonho, as pessoas procuram isso. Essa leitura é pessimista, mas não deixa de ser verdadeira. Parte dela é correcta, mas não é tudo. Acho que tem uma parte positiva também, algo de gosto, um gosto hedonista, de saborear e descobrir coisas bonitas. [...] mostra que a libido pode estar em outro lugar que não no sexo. A libido pode estar nas mãos, no nariz, nos ouvidos, no gozo, e eu acho que o luxo é um. [...]"
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gilles lipovetsky

snow [4]

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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

a casa da mariquinhas

[1378]

o que mais custa aceitar com o avançar da idade é a perda da qualidade da beleza. é sintomático que a dada altura, principalmente nas mulheres, o adiantar da vida se revele por algo diametralmente oposto ao que se define como parâmetro de beleza. e os espelhos são os maiores culpados. a imagem de alguém que se deprime a olhar para o espelho diariamente, num exercício incompreensível de recuperar os anos perdidos, é-me absolutamente misterioso. não vou escrever o lugar comum de que a moda se arvora como a medida certa, nem irei dizer que os estereótipos vincados pelas mais variadas formas de comunicação e imagem são obstáculos que impedem uma saudável convivência pós-moderna. prefiro procurar entender a perspectiva de quem se deixa diluir pela necessidade consumista, procurando nesse exercício um estímulo emocional.
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(não vou imiscuir-me em assuntos profundos da filosofia pós-moderna, até porque continuo sem ter tido tempo para ler a felicidade paradoxal - ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo de lipovetsky. sendo assim passo ao que me levou a escrever hoje)
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a imagem que guardei deste filme é um pouco essa, a de que o declínio começa na imagem, no poder que ela dá (e tira) a algumas pessoas, na vida de felicidade aparente (paradoxal para lipovetsky). a viciação na imagem, a procura de incentivos visuais, a crença numa sempiterna juventude - qual elixir da juventude - torna-se no óbice maior da felicidade aproximada a que poderemos aspirar.
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o filme que assisti ontem em ante-estreia em braga, mostra essa queda para o fatalismo dos que ascendem a estados de pomposidade especial, e dentro desse mundo de sucessivas expectativas, se deixam cair em desgraça psicológica em determina altura de decadência. o filme amália (com um argumento bem amanhado - co-escrito por este blogger e escritor) é uma boa surpresa que recomendo. não posso deixar de estabelecer certos paralelismo na montagem do enredo com o filme acima citado. há um passado a que não podes fugir (uma infância marcante) e um futuro que pode estar à distância de um desejo. amália foi (é) um ícone para todos, e não será desvendando um passado de incertezas e erros amorosos que ficaríamos com outra imagem. e ela sofreu com o desmascarar do corpo pelo tempo. recomendo vivamente, porque está bem escrito, bem dirigido, com uma ou outra excelente interpretação, e porque é português. não é todos os dias que temos oportunidade de ver um filme nacional com tanta qualidade. a partir de 5ª feira nos cinemas.
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barco negro
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De manhã temendo que me achasses feia (de manhã que medo),
Acordei tremendo deitada na areia (acordei tremendo),
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o Sol penetrou no meu coração [...]
...
estranha forma de vida
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Eu não te acompanho mais:
pára, deixa de bater.
Se não sabes onde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais
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snow [3]

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largos dias têm 5 anos

[1376]

1826 dias de dedicação a esta ca(u)sa.
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segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

snow [2]

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snow

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sábado, 29 de novembro de 2008

fontes de inspiração

[1373]

a coluna social. a visão de um poeta que ninguém lembra que vive do mesmo ar que nós. a palavra noutro blog em, fontes de inspiração.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

profilaxia

[1372]

ora meus caros, em chegado o final da semana e dada a minha disponibilidade mental para voltar a escrever, queria começar por vos pedir que oiçam este andamento enquanto esperam que eu disserte sobre qualquer coisa. se é que realmente irão esperar. importa pois que estejam muito à vontade e, se não quiserem ler, pelo menos não perderam o tempo todo.
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certas semanas servem para aliviar desnecessárias pressões que imponho a mim mesmo. é o ritmo que necessito para me sentir vivo, mas em determinadas alturas é urgente abrandar.
sem desvirtuar a necessidade da filosofia na nossa vida, é preciso reconhecer que, regra geral, as coisas são até bastante simples. nós, que permanentemente nos fazemos acompanhar de um complicómetro, é que devemos observar o quadro paisagístico da nossa vida ao longe. a distância permite perceber as falhas, as debilidades e os erros. se não assumirmos e encararmos isso naturalmente, dificilmente daremos o passo necessário.
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depois há alegrias incomensuráveis. as que pela sua força se tornam desmedidas. se virem este vídeo, rapidamente perceberão que tipo de sensações experimentei depois do filme que mais aguardei neste outono. o meu êxtase está muito próximo do descrito por saramago. é muito bom terminar o filme e o livro e perceber que isto é uma obra prima, que algo de tão grande só pode ser imaginado, criado, engrandecido, manipulado e tornado estupidamente perfeito, por um grande escritor. e saramago é enorme. (sim. podem argumentar o que quiserem, lobo antunes e o resto dos escritores portugueses todos, que respeito muito - e leio muito em detrimento dos estrangeiros. sim podem argumentar o que quiserem. eu sei do que falo. aliás eu só falo do que sei - aproveito para começar o leilão do último livro do lobo antunes, envio a quem licitar ao melhor preço, ou dou a quem provar gostar muito)
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e assim o tempo, frio por sinal (ontem no estádio municipal de braga estava um frio que nem vos conto) passa mais consentâneo com as exigências naturais que fazemos à vida. e porque dizes isso homem justo, honesto, coerente e imparcial - pergunta a voz interior deste senhor? (sim, só pode ser a dele porque eu não tenho) digo isto porque a profilaxia (cá está a justificação do título) que adoptei é feita à base de barbitúricos literários e placebos poéticos.
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reconverto-me muitas vezes em militante acérrimo de teorias milagrosas. como se a planta imaginada (panaceia) existisse no meu quintal. admito também uma certa incoerência da natureza que me é difícil de suportar. as coisas que não existem, não podem ser cobiçadas. ao mesmo tempo que aquelas que existem, mas não as conhecemos, também não podem ser admiradas. pois eu que me admiro na tenacidade ideológica retiro-me do campo onde se movimenta o xadrez para não sucumbir a um qualquer xeque-mate psicológico. vai daí cerro fileiras em busca da paz inerente ao meu estilo próprio. não se trata de egoísmo, mas antes de um encapotado altruísmo.
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é um procurar não existir grandioso
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depois desprogramo os indícios de contaminação do fim-de-semana. administro a dose necessária de amnésia e volto ao início dos dias dos desejos sabotados pela imaginação.
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(muito sub-repticiamente volto a aconselhar um texto que merece a vossa atenção. diz coisas como esta "a minha escrita é um rumor da tua ausência" ou "e passo os dias neste processo de fingimento reduzindo-te a palavras")
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acaba por ser um contra-senso estar um texto todo a expurgar o mal menor do mundo, e terminar com estas palavras citadas. a intenção era somente mostrar-vos o que eu vou lendo, já que não vejo muita televisão e não posso opinar sobre os atentados recentes. lamentável. eu e os atentados somos lamentos vomitados ao mundo por um deus que vai jogando à roleta com as nossas vidas. felizmente vivo cada vez mais fora deste mundo. ainda agora estava a pensar que hoje e amanhã há promoções sérias e importantes. descontos para todos os melómanos prosaicos.
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de uma forma genérica resultou o esforço. eu debito palavras que vão do desconexo ao estapafúrdio. perco-me em caminhos desnecessários e à vezes exagero na diminuição da capacidade de surpresa. consigo desembaraçar-me de emaranhados de ideias entediantes que me assolam e liberto-me sem esforço do que considero ser uma espécie de pensamentos de minúcia eclética. o que resulta tantas vezes em tiradas ou aforismos de um certo brilho estético. (agora não me ocorre nada. mas aconselho esta frase de um blog que cito recorrentemente [vontade indómita])
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" [...] Por tudo isto, deveriam ensinar na escola: milagres só na Bíblia. E poupavam a todos os futuros adultos muito, muito trabalho. "

terça-feira, 25 de novembro de 2008

o gaijo nunca mais morre!

A "guerra-fria" acabou e o mundo já não assiste impávido ao digladiar entre duas superpotências. O mundo está diferente e o eixo do mal já não pode ser apontado com a anterior clareza maniqueista.
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Este pequena introdução (ao bom estilo Nuno Rogeiriano) serve de prolegómeno (ao bom estilo Pacheco Pereiriiano, ou seja, de pedantismo bazofeiro) a algumas considerações sobre o último filme do James Bond, estapafurdiamente designado de "Quantum of Solace". Sim, o mundo ansiava pela minha opinião sobre o último filme do espião mais conhecido do mundo ao serviço de sua majestade. Por isso (quer gostem ou não!) ai vai amiginhos:
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Para começar, o genérico e em relação ao dueto entre Alicia Keys e Jack White, apenas boas referências. Vultos de gajas nuas q.b. e umas quantas silhuetas tipicamente filme noir, mistério e suspense. Enfim, nada de novo mas também nada de que destoe numa franchise com mais de quarenta anos, que se construiu à custa de certos pormenores repetitivos mas que ajudaram a criar uma mitologia própria.
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O vilão, é uma espécie de Sarkozy com muito mau feitio. Por outras palavras um representante de uma poderosa corporação com interesses pouco altruistas (para não estragar a surpresa) que não sabe andar à porrada e que arrasta a sua interpretação/mais cómica do que própriamente ameaçadora à custa de uma expressão facial (brrrrrrrrrrrr, que medo!) perturbante. Saúde-se de pela primeira vez o vilão do filme não ter um maxilar de metal, três mamilos (sim, ainda hoje tenho pesadelos com o Sir Christopher Lee a abrir a camisa num provador da Zara) um gato, mãos falsas, uma pala ou qualquer outra prótese ou apêndice. O que se entende, porque depois do Austin Powers o filão de pequenas bizarrias físicas em vilões tornou-se...cómico.
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O James Bond. Bem, depois de sean Connery (que ao inicio também não havia satisfeito o autor da saga, Sir Ian Flemming) é preciso ter coragem, para assumir um papel outrora entregue a figuras de tão elevado quilate cinematográfico, como George Lazenby ou até mesmo Timothy Dalton (para quem não os conhece, são uma espécie de Paulo Pires australiano e galês respectivamente).
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Daniel Craig, é um Bond anglo-germânico, frio, insensível, violento, perigoso, sádico com uma pitadinha de sarcasmo e ironia tão tipicamente britânica. No entanto preserva a masculinidade necessária a um autêntico sedutor assassino "larger then life" e dispensa as paneleirices das "gadgets" que outrora pululavam os filmes anteriores (nunca gostei de ver o John Cleese a demonstrar ao James Bond o poder do "dentrífico assassino", ou das cuecas com câmara de filmar, já agora porque não o "telémovel pistola" ou uma "metrlhadora télemovel").
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As Bond Girls, boas! Agora a sério (porque já não vivemos nos anos sessenta) boas e...inteligentes!
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Em conclusão, vou dar umas consistentes três estrelas pelo bom entretenimento. Como aspectos positivos, o argumento (que conclui o arco narrativo iniciado em Casino Royale) escrito por Paul Haggis (um dos mais prestigiados argumentistas/realizadores da actualidade) a acção (que preserva a nostalgia da série mas actualizando-a para a violência menos estilizada dos nossos dias) e a mudança de rumo que a série pretende levar (tornando-a mais séria/realista) mas por outro lado subtraindo-lhe a faceta que (nos) apaixonou gerações, uma espécie de joie de vivre frivola e superficial à base de Martinis, carros rápidos, mulheres bonitas e lugares exóticos.
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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

auto-objurgação [11]

[1370]

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(valia a pena relembrar estas palavras escritas há um ano. agora sim termina a vossa tortura)

auto-objurgação [10]

[1369]

porque não me apetece escrever mais nada esta semana (por falta de motivo), deixo-vos a última da saga da auto-flagelação. é como diz a minha amiga, um dia vou-me rir disto tudo. mas hoje não é o dia.
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sindroma da má disposição de segunda feira.

Hoje impliquei com o café que me serviram ao almoço. Porque se faz acompanhar o café em grande parte das vezes, de um rebuçado do mesmo sabor?

para um belo dia assim terminar?!...


e esta a linha a seguir?!...


será esta a janela?!


auto-objurgação [9]

[1364]

no campo da batalha que se torna o amor, o discurso feminino assume traços estratégicos pouco decifráveis. é uma espécie de semiótica feminina. há sinais evidentes que nos mostram a necessidade de conhecer por dentro a arte de guerra. há nelas um certo discurso encriptado (por necessidade táctica de defesa).
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a desconstrução do enigma passa pelo domínio da hermenêutica da suspeita. é que se a felicidade está a um pequeno passo, a desgraça está a uma distância ainda menor.

auto-objurgação [8]

[1363]

o amor é uma guerra fratricída em que a tarefa mais difícil é a desminagem da estrada principal do coração.
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auto-objurgação [7]

[1362]

" Quero que saibas
uma coisa.
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Tu sabes como é:
se contemplo
a lua de cristal, os ramos rubros
do outono lento da minha janela,
se toco
ao pé do lume
a impalpável cinza
ou o corpo enrugado da lenha,
tudo a ti me conduz,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fossem pequenos barcos que navegam
em direcção às tuas ilhas que me esperam.
[...]
Se consideras longo e louco
o vento de bandeiras
que percorre a minha vida
e decidires
deixar-me à margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
nessa hora,
levantarei os braços
e as minhas raízes irão
procurar outra terra.
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Mas se em cada dia,
em cada hora,
sentes que a mim estás destinada
com doçura implacável.
Se em cada dia em teus lábios
nasce uma flor que me procura,
ai, meu amor, ai, minha,
todo esse fogo em mim se renova,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor do teu amor se nutre, amada,
e enquanto viveres continuará nos teus braços
sem abandonar os meus."
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Pablo Neruda
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roubado daqui

domingo, 23 de novembro de 2008

auto-objurgação [6]

[1361]
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tantas palavras para dizer que me reprimo na via que uso para ser feliz. não é no fim em si que ela se encontra, mas no meio para lá chegar. e todos os meios justificam este fim.
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sábado, 22 de novembro de 2008

auto-objurgação [5]

[1360]

também me sinto menor ao escrever estas crónicas semanais. é como dizia o mec,
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"É ultradeprimente estares sempre a ler coisas muito melhores do que alguma vez vais conseguir escrever."
(vide a mesma e repetidas vezes citada revista ler, pp. 36)

Olha aí um grande filme!

O Eu, a arte e o tempo. A relação entre estes três aspectos da nossa existência tratada com extrema simplicidade numa comédia simplesmente brilhante.

Para quem acha a filosofia uma trêta e continua pouco motivado para o filme, posso-lhes garantir, no mínimo, umas 10 gajas nuas (no filme, claro!), o que não estraga o nível do filme. É uma nudez explícita, sem censura, mas com classe!

Let's look at the "treila"

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

crime ou castigo

[1358]

simples como o sol que semeia amarelo nos campos de milho em setembro. depois deste vídeo vou,
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"[...] voltar ao mundo
após uma curta eternidade, já sereno
voltar de novo ao mundo [...]"
via [nu singular]

auto-objurgação [4]

[1357]

se te deprimes, por manifesta falha química do hipotálamo, ou simplesmente porque não ingeres suficientes doses activas de serotonina, é porque vês a vida como a elis regina, na sua música sou caipira

" [...] descasei, joguei, investi, desisti. se há sorte, eu não sei, nunca vi [...]"

(um portento diga-se). mas não julguem que o chocolate - todo ele pejado da milagrosa substância- trará o segredo e a solução. pode até ser contraproducente (alarga as ancas, se bem me entendem as mulheres).

auto-objurgação [3]

[1356]
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há uma flor num canto deste país que me prendeu aos seus encantos. depois de a apanhar, caminhei vezes incalculáveis a arrancar uma a uma as suas pétalas. desmistifiquei a crença infantil de que o bem-me-quer acaba sempre nas nossas mãos.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

auto-objurgação [2]

[1355]
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costumo dizer que vivo sem expectativas. é um mecanismo virtual que fui aperfeiçoando com os anos. foi fruto de vicissitudes várias, umas naturais e aceitáveis (à luz desta mesma perspectiva actual), outras mais fictícias, arrastasdas para as nossas vidas de forma voluntária. por sinal é fácil aprender com a experiência quando criamos formas de nos defendermos da dependência de excitação e vitórias.
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corremos o risco desnecessário de nos tornarmos despegados do sabor da alegria desmesurada (e é tão bom sentir isso), mas também nos desprendemos de disabores dispensáveis. com o passar do tempo, o sistema torna-se um vício - e nisso eu sou um às - de tal forma que inadvertidamente te enredas nos meandros do sistema criado por ti.
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podes mesmo perder a noção de que há sinais evidentes que mostram o domínio do sistema sobre ti. o mecanismo endémico, quase como um sistema imunológico anti-felicidade, vai dominando a percepção que tens de ti mesmo.
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quando deveríamos estar a festejar uma vitória, sentimo-nos impelidos a conter essa emoção. como se prevíssemos que a lei de murphy actuará a qualquer altura sobre nós. perdemos o momento. e ele nunca mais volta.
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agora que analiso esta minha teoria (aplicável apenas e só a mim) admito que de certa forma não é mau ter este sistema activo. é que num passado recente, admitir que o futuro iria melhorar a olhos vistos - como se fosse possível existir uma panaceia para isto -, correu muito mal. amanhã o lugar comum será o da catarse. e prometi um presente a mim mesmo, serenar debaixo do sol de inverno. e até os pombos dos clérigos me farão feliz. palavra de honra.
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(ressalvo que, apesar da promessa, a lei supra citada continuará a existir, embora eu me tenha concentrado noutra, mais especificamente nesta, sendo que compreenderão que um dia o acontecimento tentado acontecerá. veremos qual das leis é mais forte.)

Tudo tão perto

Hoje de madrugada estivemos perto de vencer o Brasil. Estivemos a 90 minutos. Não fosse o descalabro dos 81 minutos restantes da partida e teríamos ganho à "canarinha".
Assisti apenas a 30 minutos do jogo, não posso afirmar se jogamos mal, muito mal ou pessimamente! No entanto, as vozes indignadas que vociferavam "cobras e lagartos" sobre jogadores e treinador, que ecoavam na normalmente pacata pastelaria onde tomo o meu café matinal, faziam-me acreditar que uma vez mais a equipa de todos nós tinha sido uma desilusão.
Mas as conversas não versavam apenas sobre futebol e num diálogo bem mais tranquilo, um casal dissertava sobre os reais problemas dos Portugueses. Num tom de voz que transmitia segurança, o senhor X afiançava à sua companheira estar em posse da solução para a crise.
- Eu se fosse o Primeiro-Ministro tinha solução para esta crise! - afirmou.
Afinei de imediato os receptores auditivos, sim, porque afinal a solução para a crise não é o remédio que todos desejamos obter? E estava ali tão perto.
- Tens? Como? Que fazias? - perguntou curiosa a senhora Y.
- Tenho! É tão simples! - e olhando para o relógio prossegui - Marcava uma reunião com os Ministros todos para as 10 horas...
E naquele preciso instante em que ia ser divulgada a resolução da crise, surgiu a empregada de mesa, que deixando cair sobre a mesa os cêntimos restantes, interrompeu a reunião preparatória do Conselho de Ministros que se avizinhava... Os dois levantaram-se e com eles levaram a solução da crise. E não é que ela esteve ali tão perto!
As conversas sobre o futebol continuaram e ao que parece a crise também!!!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

auto-objurgação

[1353]

é um dia que depois do outro se revela insensato. é a difícil tarefa de gerir uma torrente inexaurível. como se afastar a vontade do meu corpo permita à mente respirar um ar saudável. recorro a essa forma fictícia de criar um mundo em que me afirmo como indiferente. é o palco em que a vida nos obriga a representar.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O meu mal é ter uma curiosidade de puta...

Comecemos pela citação supracitada, pertence ao mais sardónico e provocador escritor da actualidade (Miguel Esteves Cardoso) que deu ultimamente duas preciosas entrevistas (Vide revista Ler nº74 e revista Sábado nº235) e eis algumas das suas frases lapidares:
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Sobre Saramago:
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Acho os livros de Saramago mal escritos, no sentido de serem convencidos da sua própria grandeza. É uma éspecie de declaração ao mundo. A importância dos livros só se verifica muito tempo depois.
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Sobre os romances best-seller de Miguel Sousa Tavares:
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Não li (...) Não vou ler. As coisas que tenho para ler são tantas que não tenho tempo nem paciência para ler ficção portuguesa. Para além disso, não quero ler porque me vai chatear.
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Sobre os escritores ensombrados pelos defeitos e vícios da humanidade (Gunter Grass e o seu fascínio pueril sobre o totalitarismo ou Milan Kundera como potencial covarde delator):
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Isso é uma vertente humana (...) Mas isso, por amor de Deus, não tem nada a ver com a obra. A obra é uma coisa que fica. Se tirarmos os filhos da puta da literatura e da pintura ficamos com nada. Se se tirarem os bêbados fica-se com zero. Se deixarmos só os livros feitos por pessoas que se portavam bem, tratavam bem a mulher, eram bons amigos e pagavam as contas a horas, ficamos só com merda.
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Sobre o seu novo período (de absentismo alcoólico e de substâncias psicotrópicas) mais saudável :
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Eu hoje não tomo nada. Nem para dormir. Para mim, deitar-me à noite sem comprimidos era impensável. Parecendo que não, é um bocado javardice tu deitares-te à noite sem comprimidos. Pareces uma besta sadia. Pareço um matarruano. Eu agora durmo e sabe-me bem.
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Sobre Ricardo Araújo Pereira:
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É o cronista mais talentoso da sua geração. Ele é escritor, um actor e um pensador.



O amor, a Pátria, a amizade, o sangue, o pão. É nestas coisas que acredito. Isto é mesmo verdade.
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(Miguel Esteves Cardoso, As Minhas Aventuras na República Portuguesa)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

requiem a uma alma

[1351]

quem procura a fé
através da ciência,
escolhe o caminho mais difícil.
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mas
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em não sendo o único válido,
é por certo o mais
recompens(a)dor.

Propaganda?

O Segredo (afinal era este)!


A Democracia dos Números

Quando a governação de um país se baseia no bem estar das estatísticas e não das pessoas, o ser humano transforma-se num número, condenado a ser apenas isso, um mero caracter no teclado dos computadores do sistema burocrático.

Assim:

As escolas são apresentadas como grandes centros tecnológicos, somando todos os computadores e quadros interactivos de todas as escolas temos um grande número de meios tecnológicos por escola. Fantástico. Na realidade há escolas que têm computadores e quadros em excesso e outras que não têm nenhum. Mas a estatística é que vale.

As taxas de reprovação no ensino em Portugal são cada vez menores. Fantástico. Na realidade é cada vez mais difícil chumbar um aluno por falta de aproveitamento ou até por indisciplina. Este governo prepara-se para acabar com os chumbos, pelo menos até ao 9º ano. Daqui a uns anos, quando estes meninos que passam sempre, mesmo sem saberem nada, chegarem à idade adulta, teremos uma população "altamente especializada". Bom, terão canudos na mão mas quanto ao resto... Mas a estatística vai dizer que em Portugal o ensino está a fazer um excelente trabalho.

Os professores com menos de cinco anos de serviço terão de fazer uma prova a eliminar quem não passa. A universidade atestou a nossa competência ao dar-nos um curso, muitos de nós passaram no estágio, o que constitui mais um atestado de competência. Mas não chega. A prova é a eliminar, o que significa que muitos poderão ficar para sempre inibidos de dar aulas e por isso deixam de contar para o número de professores desempregados. Lá está a estatística daqui a uns anos a dizer que vivemos no paraíso. Acabou o desemprego entre os professores.

Afinal para que serve este tipo de estatística. PROPAGANDA meus amigos, e assim o Sr. Engenheiro vai tapando os olhos da maioria com areia, tanta areia que até parece que é todos os dias segunda-feira de manhã.

Não escrevo PROPAGANDA com o R ao contrário mas bem o poderia fazer. É que isto cheira-me a qualquer coisa...

domingo, 16 de novembro de 2008

Luis Franco Bastos

Este é que vai ser um verdadeiro artista...

http://www.youtube.com/watch?v=lbmqGmqmF1s&feature=related

(vale a pena!)