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dedicado à menina do comboio, do avião, de praga,
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ao poisarem três pombos na sua mão, depois de acenar com o milho a que os animais já se habituaram, assusta-se perante a insistência da fome que os torna mais descontrolados. sorri ao tentar disfarçar o desconforto, apenas para que a foto fique memorável. na piazza duomo em milão o sol está forte, denso e os turistas vão-se sentando perto da fonte, aproveitando a sombra do grande leão da estátua.
.aqui não há fantasmas, não há visões premonitórias, não há passado que atormente nem futuro que se aguente. não há nada senão o presente. a menina deixou há uns dias de pensar no que fazer quando regressar a casa. já esperou o tempo suficiente para que o coração falasse, mas o intruso que lá entrou - a arrebatadora sensação de inércia - apenas deixa sussurrar o sentimento. nada que a deixe com certezas.
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atravessa a galeria vittorio emanuelle. não é mulher de se enamorar pela moda, veste sempre de uma forma cintilante e simples, como uma borboleta azul. contudo a galeria é uma rua fechada e consegue cortar a sua respiração dando uma sensação de claustrofobia libertadora.
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eu espero por ela no fim da galeria, em frente a teatro la scala. ao sentar-se tentando recuperar da elipses visuais que a cidade proporciona, deixa escapar um suspiro. não posso deixar de lhe pousar a mão no cabelo. não pode, nem deve um fantasma aproximar o seu poder conselheiro desta forma. mas eu já não sigo o código deontológico há muito. nenhum fantasma viaja tão longe para aconselhar. e eu, pesasoroso da minha condição inócua, liberto uma lágrima, beijo-lhe as mãos e preparo-me para assumir que o seu destino já não pode ser mais adiado. não mais posso interferir na força dos meus superiores.
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ela fica para trás com a sensação estranha de ter encontrado naquela cidade, algo que lhe anuncia o melhor caminho. ela não sabe que eu decidi pela felicidade dela.
em detrimento da minha.
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não sei quando ela voltará ao nosso convívio. sei que ficou ao pé da estátua, a ouvir ao longe uma soprano interpretar fígaro.
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(cara s., a razão do nascimento deste personagem já não justifica a sua existência. esta não pode ser mais usada, ganhou uma vida enorme. talvez volte um dia, mas vamos ver se nasce outra com menos intensidade e menos força devastadora. ou melhor, uma personagem que não mande no narrador)
1 comentário:
Não fico triste com este fim...afinal, aos olhos da menina revelou-se o caminho e uma estrada à nossa frente já é tanto...
O fantasma, esse, creio que andará por aí...a soprar versos ao ouvido de outras meninas :)
é bom estar de volta...
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