sexta-feira, 29 de agosto de 2008

florentino ariza não morreu de amor [8]

[1195]

florentino ariza não morreu de amor. morreu a dormir num dia de calma subida do rio

(o suspiro rouco da garganta, o ranger da porta ao entrar a empregada, o gotejar do chá ao cair na chávena, o estridente toque da colher, o cheiro a velho no ar, a serenidade dos objectos suspensos na sombra do quarto, os quadros intocáveis de pinturas mortas, a vida em suspenso. fermina está assim há dois dias, deitada na cama numa febre delirante, resumindo a sua vida em palavras deselegantes perante quem se aproxima, grita por vezes com os médicos, com os filhos e não admite sair de casa.)
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há dois dias atrás a chuva intensa que se abateu na manhã fria de inverno foi o início da desgraça dos moradores do leito do rio. em duas horas apenas corriam nas ruas a pedir ajuda para salvarem os seus bens. algumas casas de comércio, há muitos anos sedeadas junto do cais de embarque, foram arrastadas pelas cheias e pela corrente destruidora. e povo uniu-se contra o que se dizia ser castigo divino.
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fermina saiu de casa a dar ordens a todos os seus empregados. os animais das quintas foram postos a salvo, e toda a maquinaria resguardada da intempérie. ao fim da manhã os estragos eram suficientes para se marcar uma reunião na praça, em que seria decidido a ajuda, e o plano de recuperação dos estragos.
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fermina de regresso a casa, mandou que lhe preparassem um banho e foi-se pôr junto da lareira. era nas alturas em que se sentia mais orgulhosa de si mesma e quando se sentia viva e prestável, que decidia ler mais uma carta. abre em silêncio o envelope amarelecido e revê mais um episódio longínquo,
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" minha amapola,
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por estes dias viajei por terras interiores da amazónia. fugi desse mundo entorpecedor. deixei-te um malmequer junto da tua porta. bem sei que nunca o receberás, mas a verdade é que daqui de onde me encontro, consigo fechar os olhos e sentir o aroma da flôr e ver-te passar à porta da companhia de viagens.
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fugi para refrescar o desejo, descer o rio, cortar e guardar as novas plantas que vou descobrindo. a amazónia é como a impossível relação entre nós, é densa de vegetação, sem caminhos abertos e visíveis. nada aqui te encaminha no facilistismo, e no entanto todo o encanto desta floresta é arrebatador e encantador.
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não sei quando voltarei. mas tenho a certeza que não morrerei a não ser nos teus braços.
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dá o teu corpo. não dês o teu coração.
aguardo-te
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florentino ariza
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o assalto da temperatura ao corpo de fermina começa logo após o jantar. a febre assoma-se-lhe com a velocidade típica de um vírus colérico e devastador. já não sai da cama até à hora em que o médico decide que o internamento será irreversível.
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(o cheiro a éter no ar. as paredes brancas e os lençóis desinfectados. o quarto despido e nu de sentido vivencial. as portas entreabertas. as enfermeiras diligentes no seu trabalho. os termómetros e os soros fisiológicos. tudo aqui adivinha sofrimento. fermina já não participa na missa celebrada pelos dois corpos desaparecidos. tudo aqui adivinha dor.)
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deixemo-la recuperar.

rua deserta

[1194]

se um dia acordasse numa rua
toda ela desconhecida do meu tempo,
e sem procurar em todas as portas
adivinhasse qual a tua morada,
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sentava-me à espera da tua chegada.
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se um dia acordasse nesse sítio
mesmo sabendo-te escondida do meu lamento,
talvez me convertesse ao enigma da estrela
sabendo-me entregue ao teu sorriso.
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não sei se algum dia acordarei nessa rua,
ou se esperarei a ausência anunciada,
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mas hoje sonhei com ela. deserta.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

A propósito da imprensa desportiva em Portugal.

Ontem à noite, Vanessa Fernandes e Nélson Évora regressaram a Portugal após duas excelentes prestações nos Jogos Olímpicos de Pequim.

Logo à saída, ainda dentro do aeroporto, deram uma conferência de imprensa vergonhosa, não por sua culpa mas por culpa dos jornalistas presentes.

Não houve questões directamente relacionadas com o trabalho dos dois atletas em questão. Os jornalistas só queriam saber acerca do mau ambiente criado após certas declarações de alguns atletas, divergências dentro da equipa olímpica... enfim, polémicas e palhaçadas.

Estes atletas mereciam, no mínimo, uma recepção mais digna e respeitosa por parte da comunicação social.

Mais uma vez deram provas de profunda incompetência e "pastorice aguda".

Acho que os jornalistas aquela hora estavam bem era na caminha...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Do Fundo do Baú - 5

A rubrica "Do Fundo do Baú" regressa com esta pérola das matinées dançantes, do tempo em qua a última hora da festa era destinada aos "slows". Como diz o meu amigo J. A., que viveu intensamente esses tempos, «"Aquilo é que era, três horas de "shake", uma hora de "slows"».

lost in translation [2]

[1191]

ao procurar encontrar solução para os problemas cada pessoa vive o processo de decisão de uma maneira muito particular. é assim que as pessoas vão evoluindo para outras gentes, virando por vezes do avesso o que são ou foram, entrando outras tantas numa infinita viagem a um mundo diferente, que não raras vezes nem chegam a reconhecer no fim.
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eu gosto de pensar que me conheço a cada passo que dou. não quero achar que sigo um caminho influenciado por uma desatenção, por uma avaliação errada do presente, que sigo um caminho por não ver o oposto. escrevo o meu destino com os olhos postos no meu umbigo.
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no amor, o estranho desenlace da caligrafia que gravo nas páginas do meu tempo, sempre me deixou reconhecido. não só pelo que vivi de bom, mas principalmente por ter conhecido uma parte nova em mim e noutras pessoas. provamos que somos capazes de coisas extraordinárias que nunca pensamos ser possível viver.
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o amor é um lugar estranho. e usar a palavra amor, devia ser como na religião e nas orações, nunca em vão. eu acredito existir amor, onde a palavra não entra, mas apenas a sua força através de um gesto, tantas vezes simples.
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poderia dizer vezes infinitas que a verdade é a que existe e não a que imaginamos, tal como a realidade. não há no mundo um só humano que carregue demasiado peso penoso, que não seja a medida exacta do que precisa para crescer. e por isso cada etapa é uma vitória. eu aprendi que há alturas na vida em que não adianta medir forças com a tristeza. é demasiado forte e derrota-nos. aprendi a abraçar a tristeza quando ela me aparecia, e como em todas as relações, a amizade acaba sempre por nos tornar bons amigos.
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escrevo em devaneio premeditado para dizer à nossa amiga kitty, que a força para enfrentar o dia-a-dia é como a brisa refrescante no deserto tunisino.
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pergunto eu agora,
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depois de tantas manifestações agradáveis, ainda achas que o amor é um lugar estranho? olha que nós é que somos...

lost in translation

[1190]

só sei que hoje não
estás onde deverias estar.
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e por isso,
também eu estou no sítio errado.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

novidades na literatura portuguesa

[1189]

uma das novidades mais interessantes para este ano, é a publicação de um novo livro de poesia de herberto hélder. a notícia foi roubada do blog [bibliotecário de babel]. a nova edição será na assírio e alvim e terá como título, A Faca não Corta o Fogo – súmula & inédita.
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no mesmo blog, e depois de ser conhecido que saramago havia terminado o seu mais recente romance, a viagem do elefante, foi dado a conhecer o primeiro capítulo do livro.
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começa assim,
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"Não há vento, porém a névoa parece mover-se em lentos turbilhões como se o próprio bóreas, em pessoa, a estivesse soprando desde o mais recôndito norte e dos gelos eternos. O que não está bem, confessemo-lo, é que, em situação tão delicada como esta, alguém se tenha posto aqui a puxar o lustro à prosa para sacar alguns reflexos poéticos sem pinta de originalidade. A esta hora os companheiros da caravana já deram com certeza pela falta do ausente, dois deles declararam-se voluntários para voltar atrás e salvar o desditoso náufrago, e isso seria muito de agradecer se não fosse a fama de poltrão que o iria acompanhar para o resto da vida, Imaginem, diria a voz pública, o tipo ali sentado, à espera de que aparecesse alguém a salvá-lo, há gente que não tem vergonha nenhuma. " [continuação]

sábado, 23 de agosto de 2008

um fantasma no teatro la scala de milão

[1188]

dedicado à menina do comboio, do avião, de praga,
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ao poisarem três pombos na sua mão, depois de acenar com o milho a que os animais já se habituaram, assusta-se perante a insistência da fome que os torna mais descontrolados. sorri ao tentar disfarçar o desconforto, apenas para que a foto fique memorável. na piazza duomo em milão o sol está forte, denso e os turistas vão-se sentando perto da fonte, aproveitando a sombra do grande leão da estátua.
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aqui não há fantasmas, não há visões premonitórias, não há passado que atormente nem futuro que se aguente. não há nada senão o presente. a menina deixou há uns dias de pensar no que fazer quando regressar a casa. já esperou o tempo suficiente para que o coração falasse, mas o intruso que lá entrou - a arrebatadora sensação de inércia - apenas deixa sussurrar o sentimento. nada que a deixe com certezas.
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atravessa a galeria vittorio emanuelle. não é mulher de se enamorar pela moda, veste sempre de uma forma cintilante e simples, como uma borboleta azul. contudo a galeria é uma rua fechada e consegue cortar a sua respiração dando uma sensação de claustrofobia libertadora.
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eu espero por ela no fim da galeria, em frente a teatro la scala. ao sentar-se tentando recuperar da elipses visuais que a cidade proporciona, deixa escapar um suspiro. não posso deixar de lhe pousar a mão no cabelo. não pode, nem deve um fantasma aproximar o seu poder conselheiro desta forma. mas eu já não sigo o código deontológico há muito. nenhum fantasma viaja tão longe para aconselhar. e eu, pesasoroso da minha condição inócua, liberto uma lágrima, beijo-lhe as mãos e preparo-me para assumir que o seu destino já não pode ser mais adiado. não mais posso interferir na força dos meus superiores.
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ela fica para trás com a sensação estranha de ter encontrado naquela cidade, algo que lhe anuncia o melhor caminho. ela não sabe que eu decidi pela felicidade dela.
em detrimento da minha.
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não sei quando ela voltará ao nosso convívio. sei que ficou ao pé da estátua, a ouvir ao longe uma soprano interpretar fígaro.
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(cara s., a razão do nascimento deste personagem já não justifica a sua existência. esta não pode ser mais usada, ganhou uma vida enorme. talvez volte um dia, mas vamos ver se nasce outra com menos intensidade e menos força devastadora. ou melhor, uma personagem que não mande no narrador)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

as palavras que nunca te direi

[1187]

sabes,
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há já muito que esperam estas palavras,
esperam pelo dia certo, para serem lidas em silêncio,
esperaram pacientes
para que leias sem pressa...
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sabes,
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talvez nunca venha a ser tarde,
porque sem espera ou data marcada,
o tempo nunca se esgota, vive-se.
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Se alguém bater um dia à tua porta,
Dizendo que é um emissário meu,
Não acredites, nem que seja eu;
Que o meu vaidoso orgulho não comporta
Bater sequer à porta irreal do céu.
Mas se, naturalmente, e sem ouvir
Alguém bater, fores a porta abrir
E encontrares alguém como que à espera
De ousar bater, medita um pouco.
Esse era Meu emissário e eu e o que comporta
O meu orgulho do que desespera.
Abre a quem não bater à tua porta!
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Fernando Pessoa

a praga que não vimos

[1186]

há 40 anos atrás os tanques da URSS entravam em praga sem aviso prévio, sem razão, com a intenção de cercear a liberdade concedida pelo "socialismo de rosto humano" reinante na checoslováquia. dizia a imprensa estrangeira na altura que praga,
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"Os exíguos sete mil quartos de hotel disponíveis estavam permanentemente ocupados. Era difícil encontrar uma mesa livre nos restaurantes e quase impossível vislumbrar um táxi que não estivesse ocupado. O New York Times escrevia no princípio de Agosto: «Para aqueles que têm menos de trinta anos, Praga parece ser o sítio onde vale a pena estar neste verão»."
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o que aconteceu a seguir merece ainda hoje reflexão, principalmente pelos recentes movimentos belicistas, bem como o anunciado e crescente interesse num ressurgir do equilibrio geo-estratégioco no mundo.
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«Le 20 août 1968, alors que l'intervention soviétique est en cours, Hubert, un étudiant ouest-allemand, arrive en gare de Prague où l'attend Lioubov, sa petite amie ukrainienne. Sur la place Venceslas, devant l'immeuble de la radio-télévision, le couple s'abrite derrière une barricade, mais une balle atteint le jeune homme, le laissant invalide pour le reste de sa vie… Quarante ans plus tard, Lioubov et Hubert se retrouvent à Prague. Dans ce film, le destin douloureux du jeune couple sert de toile de fond pour évoquer la fin de cette période exceptionnelle qui avait fait souffler un vent de liberté sur la Tchécoslovaquie»
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«Prague 1968: La fin d'un rêve»
Peter Heller (realizador), Alemanha, 2008
via [as brumas da memória]
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ontem mesmo quando lia uma passagem de um dos livros da cabeceira dei com esta tirada,
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o que é o comunismo senão um feudalismo com um só senhor?
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a arte de ser português, teixeira de pascoaes

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

17,67m



Finalmente o ouro tão desejado!!!

P.S: nenhuma televisão nacional estava a dar em directo os saltos do Campeão.

numa sixty-six qualquer da europa [2]

[1184]

não é fácil recordar tudo o que se vive nos dias em que a correria impera. com horas marcadas, hotéis reservados, quilómetros a percorrer entre estradas boas e outras horríveis, e o stress que se vai apoderando de cada um a espaços, a memória só guarda o que de muito especial redefine os conceitos pré-formatados.
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entramos pela primeira vez na aústria. para quem não sabe, ao circular nestes países paga-se uma taxa, o carro tem de ter afixado um selo específico cujo valor varia de país para país. na aústria custa 7 euros e serve para dez dias. a estação de serviço em que se comprou este selo, é uma casa completamente diferente de todas as outras. parece uma casa tradicional, com todos os artefactos típicos da região espalhados metodicamente e com um organização tal que mais parece que estás prestes a entrar num restaurante local.
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o que apraz registar nem é toda a limpeza e beleza das frutas, realçadas por umas amoras enormes, que - juro a pés juntos - nunca vi em toda a minha vida. o que quero deixar registado é o intenso aroma que se espalha por todo o espaço. é uma fragrância a pimentos. sim. se fechar os olhos consigo inspirar todas as cores que circulavam no ar.
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no on the road, não se capta o que se quer. num on the road nem te lembras de registar, mas há coisas que nem cem anos de vida te fazem esquecer.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

numa sixty-six qualquer da europa

[1183]

confesso que não seria igual a mim mesmo se não regressasse de uma forma pouco ponderada. a imagem que tenho na cabeça, mesmo estando embrenhado na papelada, nos acertos de horas, nas marcações de reuniões e em todo o trabalho de campo a que será necessário regressar em força, é a de um crepúsculo. perdido numa estrada qualquer entre munique e zurique.
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viajava há quase duas horas e nem um único sinal de cansaço me pesava nos movimentos. nem mesmo quando reparo que só o silêncio dentro do carro parece enamorar a música. seguem todos de cabeça tombada, sabe-se lá bem onde, a pensar ou a sonhar em quê. eu sorrio perante o sol que se vai escondendo entre as montanhas e umas núvens alaranjadas sujando o céu quase sempre imaculado. graças a isto percebo que sou filho desta hora, sim eu nasci às sete da tarde. é a hora do crepúsculo.
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não sei no que pensei a seguir. a fugacidade do momento sublime fez-me entender finalmente o que significa on the road. captação de momentos únicos.
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não tive tempo de regressar. procurei em vão, diga-se em abono, recolocar-me neste meu mundo. ainda não encontrei o caminho de volta. embora já tivesse a prova suficiente de duas verdades. uma delas é que me encontro de portas fechadas, outra, que tenho janelas semi-cerradas. mas a isso tenho tempo de regressar.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

viagem - dia 15/08

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tudo o que é bom acaba depressa. a viagenm da minha vida termina hoje. regressamos a tempo de um bom jantar na nossa terrinha.
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espero regressar a dois ou três sítios marcantes, um dia.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

viagem - dia 14/08

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liechtenstein - milão (en passant) - génova,
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de regresso a itália, pernoitamos na bela génova. por esta altura o cansaço é evidente, mas as saudades já devem apertar, as de casa e as saudades do que ficou para trás...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

ADENDA DE ÚLTIMA HORA

chegamos a zürich, a cidade dos passeios á beira lago...
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estamos com saudades do bacalhau com broa e de uma garrafinha de planalto. sexta-feira termina a nossa viagem, e vamos por essa ementa em dia. passamos a manhã em vaduz, capital daquele imenso país, liechenstein.
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amanhã regressamos a itália para visitar milão e génova. de volta ao ponto de partida...
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see you soon.

viagem - dia 13/08

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deixamos munique.
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partimos em direcção a zurique. nada a dizer por hoje. é do cansaço. compreenderão que já fizemos mais de 2500 km.
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espero que zurique não seja uma cidade tão fria como a pintam.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

viagem - dia 12/08

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partimos cedo de praga em direcção a munique.
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como é a primeira vez que atravesso tantas fronteiras, não sei se será conveniente estar a antecipar sensações. talvez a esta hora esteja a escrever qualquer coisa no diário de bordo que sirva para publicação. para além das fotos, claro.

Quente!!!

Estaremos na iminência do renascimento da Guerra Fria?

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

viagem - dia 11/08

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praga,
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mais uma capital, mais um país. finalmente a revolução de veludo aos meus olhos.
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espero poder escrever um poema em condições para publicar quando regressar. parece-me que o cansaço já começa a dar sinais.
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há um fantasma a rondar a praça wenceslas. há vários. eu sou um deles, mas hoje estou de folga. a vida de conselheiro obriga-nos a enormes deslocações. sentei-me ao pé da menina, a do comboio, a do avião, hoje é a do carro, que visia praga, com a esperança de encontrar uma solução para a sua insatisfação indómita.
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segredo-lhe mais uma vez ao ouvido, desta vez em tom melancólico, sussurando as palavras que a possam consolar, que a possam despertar. mas vou pensando que me apaixonei por ela. pelo perfume do cabelo. pelos olhos a fecharem em movimentos lentos. desisto da regra e beijo-a. ela sorri. infelizmente para mim, não sabe porquê.
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dedicado à s.
(directamente do eléctrico da praça praça václavské)

domingo, 10 de agosto de 2008

viagem - dia 10/08

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auschwitz,
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«...exactamente porque o Lager (campo de concentração) é uma grande máquina de nos reduzir a animais, nós não devemos tornar-nos animais.»
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primo levi, se isto é um homem
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silêncio. muito silêncio. partiremos em direcção a praga no final do dia. até amanhã

sábado, 9 de agosto de 2008

viagem - dia 9/08

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viena (saida),
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chegaremos ao fim do dia a cracovia...em viagem, muito cansaco....

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

adenda

so para dizer que terminou viena. amanha partimos para a polonia, cracovia. deixamos contudo uma cidade snob, requintada e com muito bom gosto. vimos alguns quadros do klimt, mas nao o beijo. levo um postal do beijo para oferecer.
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see you soo.

viagem - dia 8/08

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viena,

sem palavras para descrever, deixo um vídeo. relembrando velhas glórias.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

ADENDA DE ÚLTIMA HORA

chegamos saos e salvos a viena. nao deu para ver grande coisa, mas já passeamos bastante e amanha estaremos por aqui o dia todo.
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o sistema de transportes pelo menos funciona na perfeicao. apesar de muito grande espero amanha poder conhecer os principais monumentos.
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see you soon.

viagem - dia 7/08

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ljubljana,
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não sei como será esta cidade. será uma surpresa completa. depois mostramos como foi.
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no fim do dia partimos para viena.

ADENDA DE ULTIMA HORA

:-)

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acabamos de chegar da noite de ljubljana (sao 2:05). esta´um calor mais fresco. os bares sao fabulosos, junto ao rio, e a cidade e´maravilhosa. limpissima, arejada, civilizada. e nao tem mulheres feias.
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amanha partimos para viena. a valsa vai comečar...

momento do dia

ljubjlana, uma pracinha, uma cerveja e a ouvir modern talking. surreal? so para quem nunca ca veio. tambem deu para ouvir "i just die in your arms tonight" num bar. isto parece o oceano pacifico ao vivo.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

viagem - dia 6/08

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veneza,
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De muitas coisas se pode morrer
em Veneza
De velhice de susto
de peste
ou de beleza

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Jorge Sousa Braga in o poeta nu
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estaremos o dia por aqui. prometo depois publicar fotos disto. dedico este dia a alguém muito especial. em definitivo morre aqui neste barco a luz dos meus olhos. para nascer outra. no fim do dia estaremos na eslovénia, ljubljana. dormimos nessa cidade surpresa.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

ADENDA DE ULTIMA HORA

;-)
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esta' um calor infernal em veneza, sao 23:54. so' para vos dizer que veneza e' uma cidade lindissima. vou levar duas ma'scaras de baile, uma para a menina que me mandou uma mensagem ontem, e outra para quem escreveu um comenta'rio ano'nimo no post anterior.
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see you soon.
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(desculpem mas o teclado nao tem acentos)

viagem - dia 5/8

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estaremos o dia em florença. no final do dia partimos para veneza. descansaremos ali, ao largo dos canais do amor.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

ausência

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não vou olhar
para não ver,
ou não sentir.

não quero correr
por um tempo que
não existe.

não vou estar
onde a ausência
se fizer sentir.
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partimos hoje e devo ter chegado são e salvo a pisa. no final do dia estaremos em florença. pernoitamos nessa cidade. até amanhã.

domingo, 3 de agosto de 2008

férias

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"o mundo é um imenso livro do qual aqueles que nunca saem de casa lêem apenas uma página."
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agostinho de hipona
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vou ali de viagem (ler umas páginas ao mundo), e já volto
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(programei uns posts a serem editados em dias especiais. não estarei cá para responder aos vossos comentários, mas actualizarei as respostas quando regressar.)

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Meu querido, mês de Agosto

Prometi a mim mesmo que iria em Agosto intervir mais neste blog, assim não poderia deixar de neste primeiro dia expressar a minha admiração, quem sabe talvez inveja, por todos aqueles que no dia de hoje iniciam duas das tarefas mais aliciantes e ao mesmo  tempo reconfortantes para o ser humano, o òcio e a preguiça. Espero que a minha próxima semana de martírio passe depressa, (será que acredito realmente nisso) e possa em breve juntar-me a este exército de mandreões e inúteis que infestam a nossas praias, esplanadas e centros comerciais e sonhar que quando voltar ao trabalho as coisas serão melhores e os problemas não existirão. Resta-me desejar boas férias a todos e esperar que alguém em breve o faça a mim.






...

1. estou de férias

2. a partir de hoje passo a usar risco ao meio

3. ouvi um piropo altamente (não dirigido a mim claro): "oh estrela queres cometa"

4. estou de férias

a insigne residência dos limas [2]

[1060]

episódios da vida rural

comecemos pelo princípio.

não era mais fácil que começar uma história de duas pessoas pelo princípio. contudo, o início da relação destes dois não pode ser contada do seu princípio, mas antes do seu começo.

foram apresentados numa festa de amigos comuns, e a discussão azedou um pouco quando os elogios a saramago de um lado, e a lobo antunes do outro, tornou evidente que eram pessoas de opinião vincada e que dificilmente seriam mudadas. terminaram a noite de costas voltadas e nem se despediram no final.
só um mês depois desta festa, se encontraram por acaso numa repartição de finanças local, quando ambos se preparavam para apresentar a declaração de rendimentos. em ambos surgiu um sorriso desarmante como que assumindo a infantilidade da discussão que os separou naquele dia,



bom dia, suponho que posso acompanhar a menina para não ter de aguentar esta fila enorme em solidão.

claro que sim, julgo que nossa discussão foi um pouco despropositada e desmesurada, e peço desculpa pela minha atitude.

ora essa, eu é que peço desculpa, não me parece que Saramago mereça esta desavença.

concordo consigo

contigo, trata-me por tu.




seguiram assim durante uma hora, a conversa animando, ambos falando sobre as suas tarefas, longe do clima crispado em que se tinham conhecido.

(as intricadas anomalias dos fusíveis que regem o destino, permitiram que se encontrassem mais uma ou duas vezes sem intenção, sendo que ao terceiro encontro já tudo se fazia com o propósito de conhecerem, e o brilho nos olhos de ambos reacendia-se a cada novo encontro, provando que a paixão não se rende aos caminhos desencontrados.)

o nosso casal, que hoje se senta na varanda do quarto, virada a sul com vista sobre o jardim e o quintal, tomando um chá frio refrescando na noite de verão, é uma forma de vida unificada pelo tempo, pelas horas de algum desconforto, pelas dificuldades iniciais de um casal, por tudo o que confirma a existência de um amor sacrificado.

ele levanta-se sempre devagar, beija-a na testa, e procura o romance de saramago para reler, as obras favoritas que se mantêm numa colecção especial, sempre prontas a salvarem os seus olhos antes de dormir.
e tantas vezes é ela quem lhe retira o livro das mãos, e com um beijo pousado de forma suave, apaga a luz do candeeiro, lembrando a discussão que tiveram numa noite em que os astros renunciaram a vigiar este amor que de tão impossível se tornou verdadeiro.

(hoje a lua parece um pouco normal, sem poesia, sem brilho, feita de esfera vulgar. talvez seja assim para não ofuscar certos momentos em a luz prata emana de uma casa perdida numa terra sossegada, em que nada se desproporciona do equilíbrio universal.)