terça-feira, 13 de novembro de 2007

A comédia tem um novo rei...





Neste último Domingo tive a chance de mais uma vez desfazer um velho lugar-comum, que infelizmente persiste em grassar nas falanges de uma certa juventude pseudo-intelectual, ou seja, a ideia de que o cinema norte-americano não possui elevação artística ou subtileza.



O filme "Knocked Up" traduzido impecávelmente em português para "Um azar do caraças" é verdadeiramente uma pérola. A premissa inicial é estupidamente simples, um rapaz looser e javardolas conhece uma rapariga emancipada e sofisticada numa noite de copos, os dois tem um affair passageiro para nunca mais se lembrarem (a desgosto do nosso protagonista) dessa noite regada por muito álcool. Passadas oito semanas a rapariga está grávida do inesperado Seth Rogen...



Ora, os méritos desta comédia não residem no titulo boçal ou na linha narrativa, tradicional e vulgar, mas sim na pandilha de Judd Apatow, que mais do que actores motivados ora pelo sucesso ora pelos dólares, parecem transparecer para o ecrã uma relação estreita e inabalável de pura amizade e camaradagem (facto a que não será alheia a presença do mesmo núcleo de actores em outras comédias de sucesso, como "Virgem aos 40 anos" ou " O Super-baldas" ou ainda "A balada de Ricky Bobby").



"Um azar do caraças", é acima de tudo um filme cuidadosamente escrito (impagável o gag dos alter egos de uma personagem com uma revivalista barba á eighties) pela mão de um realizador que transborda carinho pelas vidas mais ordinárias do nosso dia-a-dia, ao afirmar-nos ternamente que a banalidade também pode ser excitante (desde a criação de um site soft-core pelos amigalhaços até á insegurança de duas mulheres em crise de histeria aguda à entrada de uma discoteca) ao mesmo tempo que (sem fazer juizos de valor) estabelece dilemas morais (a entrada na idade adulta ou o eterno irresponsável carpe-diem dos amigalhaços) e a solução airosa de como os ultrapassarmos, sem nunca cair na vulgaridade ou em paternalismos moralistas. Ha, e ainda por cima o filme tem muuuuuuuuita graça!

3 comentários:

S. G. disse...

efectivamente há que ajudar a destruir esses pseudo-intelectuais "jovens?" - por vezes nem parece que são desta geração - para que definitivamente se instale a ideia de que em qualquer lado podemos descobrir pontas solas de qualidade. seja no cinema na pintura ou na fotografia.

abraço (também aos leitores-de-livros-da-braileira-que-têm-o-marcador-sempre-nas-últimas-páginas-do-kundera)

Pedro Indy disse...

É sempre assim, no cinema, na música, na literatura... enfim. Se muita gente gosta, é uma merda porque não é coisa de "elite intelectual". Mas, se há um gajo no meio de uma galeria de arte a cagar num prato, huuuuu, é arte, é um artista...

Puta que os pariu.

Podia dar aqui centenas de exemplos de músicos que quando apareceram eram uma "coisa" diferente, uma "coisa com nível". Meses depois, só porque muita gente começou a gostar passam a ser uma porcaria.

Puta que os pariu.

Também eles (pseudo-intelectuais) se esquecem que a sua postura, por vezes até o seu modo de vestir, é em si uma moda... Comum a tanta gente.

Puta que os pariu.

Onun Ras Al Gull disse...

S� quero dizer:

"Puta que os pariu!"