terça-feira, 15 de abril de 2008

munique

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a manhã estremeceu de frio. munique não dorme, nem acorda. munique passa pelo tempo sem a necessidade de parar. nem descansar. é a cidade que tem ruas como veias em que nunca cessa o trânsito, o metros ou os táxis, como sangue que hoje desagua num coração português.
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anne shultz, doce olhos azuis e um cabelo pintado de côr lilás, era apetecível aos olhos de quem na esplanada do hotel, demoradamente tomava o pequeno almoço. por entre alguns executivos, e turistas, a sombra em que se resguardou não era suficiente para atenuar o brilho das pernas cruzadas em sobressaidas formas recortadas pela saia.
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adriano aleixo, disléxico empresário duma vila de viseu, apresentando o produto da sua fábrica de componentes autóveis numa feira interncional de munique, sentou-se na mesa ao lado. abriu o jornal, recostou-se na cadeira de vime olhando o céu limpo. adorou aquele pão tigre, ainda quente com manteiga e fiambre. mas o que o tornou mais apreciador da cultura alemã era a calma com que todos os outros homens desprezavam a beldade que não tardaria a interpelar pedindo lume.
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ao perceber o sotaque do nosso tropeçante de palavras na língua, a mulher, que tinha estado no brasil em representação de uma corretora inglesa, sorriu e acedeu a convidá-lo para nessa noite beberem um copo, com a promessa de lhe mostrar a munique escondida dos turistas.
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não há na medida do espaço exterior do hotel uma palmeira que esteja maltratada. todos os canteiros estão superiormente aparados e embelezados. adriano não quer ver o que os seus pés pisam. nem mesmo o espelho de água com dois patos bravos cinzentos ao lado do pavilhão da feira lhe desviam o olhar. está parado no tempo dos olhos da alemã.

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