domingo, 22 de março de 2009

Dia Mundial da Poesia

Almoço

Entrar num restaurante chamado "Rodízio de Peixe" e esperar um bom bife, é parvo! Sentar-se no restaurante e esperar pela lista é normal, mesmo num "Rodízio de Peixe". Mas não, sem perguntas, sem nada, dou por mim com um prato à frente e um batalhão de rapazes que corriam de um lado para o outro com travessas de peixe, muito peixe, vários tipos de peixe. Surpreendeu-me pela positiva, fica entre o Montijo e o Pinhal Novo e tanto peixe grelhado por menos de 10 euros (fora as bebidas), não está nada mal. O espaço em si não era nenhum requinte mas ainda assim valeu a pena. De papo cheio toca a pagar e seguir viagem. Para onde? Sul, decidimos em alternativa ao Centro Cultural de Belém onde se celebrava o dia mundial da poesia. Acabou por ser uma boa opção. Há para mim poesia suficiente numa estrada, um destino mais ou menos indefinido e a companhia da L.

Setúbal

Acabámos por parar em Setúbal. Ainda não foi desta que me embrenhei com olhos de ver naquela terra. Estava bom tempo e apetecia-nos o rio. Encontrámo-lo numa esplanada. Hora do café. Olhar aquele rio faz-me pensar em algo que contraria a normalidade. Aquele rio corre de Sul para Norte, ou seja de baixo para cima. Se corre de baixo para cima deve correr com mais dificuldade, deve sofrer bastante para chegar ao mar (pelo menos na minha cabeça habituada a mapas direccionados ao Norte)... Eureka. Descubro que o rio Sado não é apenas Sado. É sadomasoquista!

A Travessia

E agora? Norte ou Sul? A Norte a serra da Arrábida, Azeitão, Sesimbra, já lá fomos e pretendemos voltar mas hoje vamos para Sul. Na primeira tentativa acabámos nos estaleiros da Lisnave. Fim de linha. Voltar para trás. Regresso à zona ribeirinha de Setúbal. E que tal apanhar o ferry-boat? Apenas a ida, depois logo se vê. Antes do embarque alguém me tentou vender uns óculos “Armande”. Não comprei. Em poucos minutos já estávamos a atravessar o rio. Depois de atravessar um rio, várias vezes, num ferry na Guiné-Bissau, esta travessia é uma brincadeira de meninos. Contudo, está longe de ter o mesmo glamour de uma travessia de rio africana.
Já se avistavam as construções de Tróia, sem muralhas, cavalos ou helenas. Apenas o calcanhar de Aquiles no horizonte. Sim, o ponto fraco daquela língua de terra. Fará sentido demolir uns mamarrachos para a seguir colocar outros no mesmo lugar? Tróia é bonita. Podia ser ainda mais.

Tróia

Nem paramos, apesar da promessa avistada do ferry, promessa de belas praias. Seguimos para Sul à procura de areias bem mais arejadas. A paisagem convida ao passeio, tal como a placa que indica a praia do Carvalhal nos convidou. Bela praia. Dois restaurantes, duas calmas esplanadas, construções em madeira, daquelas que sem ofender a paisagem se prolongam pacificamente pela areia. Lindo. O sol ia descendo, a brisa afagava-nos o rosto, mais um café para o caminho. Seguimos viagem.

Alcácer do Sal

Em tempos, numa viagem para o Algarve, possivelmente há mais de vinte anos, estive num local à beira rio, era noite e lembro-me de uma lua imensa reflectida naquelas águas que desfilavam sob uma ponte de ferro. Não estou a tentar criar uma imagem poética. Estou simplesmente a descrever uma memória, tal e qual ela habitava na minha cabeça. Talvez exagere ao descrever certas memórias mas é mesmo assim, tenho tendência a dramatizá-las, leia-se, tenho tendência a transformá-las em cenas de filme, em pedaços de celulóide que aqui e ali armazeno na minha cabeça. Talvez se deva ao facto de Cinema Paraíso ser um dos filmes da minha vida.
Reencontrei esse lugar. Vale uma visita mais cuidada numa próxima oportunidade. É, de facto, uma terra bonita que parece ter a sua magia. Após uns minutos numa esplanada estava na hora de voltar. Anoitecia.

Houve poesia no dia da poesia. Houve também Slumdog Millionaire à noite.

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