[1801 (junho/07 a dezembro/09)]
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foi de repente. nasceu de um vazio. nasceu para suprimir uma necessidade. não de falar, porque sou muito comedido no que digo - não vá eu dizer asneiras -, mas de um vazio farto. de um vazio tumoral. talvez reprimido pelo medo constante do erro, deixei-me demasiadas vezes quedar pelo imobilismo. hoje, apesar de se feito da mesma massa, corrigi a visão que tenho das coisas do mundo, materiais e intangíveis.
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mas foi de repente. nasceu assim de uma sinceridade para com a minha aversão à exposição. tudo sem conversas alongadas, sem monólogos chatos, principalmente porque o anonimato permite a liberdade das palavras, disfarça o receio e alarga a margem do horizonte.
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e dou comigo a mergulhar em livros impensáveis. a saborear poesias. a mergulhar num desconhecido ilimitado. a recalcular rotas, ansioso por despejar o conhecimento que isto proporcionava. tarde demais. estava já contaminado pela estupidez da publicação aleatória. e escrevia tudo. e acordava com frases despertadoras, adormecia com histórias brilhantes, ideias geniais, poemas perfeitos. enfim, dias e mais dias seguidos de epifanias e aforismos constantes.
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depois foram as visitas. depois os blogs novos. depois as pessoas invisíveis. depois mais blogs. e mais pessoas. uma espécie de conto de james joyce, em que reina a confusão e caos e no fim tudo encaixa perfeitamente.
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descrevo isto como se fosse um sofrimento. não foi. é-me ainda difícil passar uma mensagem nítida, peço desculpa. dois anos e meio nisto e nem conjugações gramaticais sei respeitar. é uma pena. poderia ter ido longe, e houve dias em que imaginei a glória da publicação e do reconhecimento. que vergonha. verdade. a minha vergonha atinge níveis estonteantes por vezes, de tal maneira que sinto a pior vergonha de todas, vergonha pelos outros (não é a pior de todas, nuno?). é a raiz católica. está demasiado entroncada na epiderme e por vezes ignoro o seu poder. vergonha porque não é verdade que almejasse o brilho do estrelato. longe, muito longe.
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adiante. interessa que não foi um sofrimento. viver neste blog foi de um prazer incrível. ganhei a noção da importância que merecem as críticas. e das limitações. acreditem, nada foi mais importante do que perceber as limitações. e sempre dei destaque a verdadeiras inspirações intelectuais. por pura inveja criativa, exaltei o que de melhor li por aí.
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mas há muito mais. muito que ficou por dizer. muito que se derrubou perante a desmotivação. perante o vazio que se esvaziava. para quê insistir num caminho que se perdeu em algum ponto? o prazer é muito importante, e quando ele se escusa lambuzar-te o corpo, não devemos pedir compaixão.
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e continuarei por aqui como o tal fantasma (prefiro assim, o contacto reduz-se nesse jogo de contrários). prefiro estar na escuridão a ler-vos. a ouvir-vos. a processar as vossas preciosidades literárias. as vossas lamechices. cabe tudo no meu espaço. no meu campo de visão. há muito que me livrei da intolerância. e é aqui que reconheço outra vez uma inaudita capacidade messiânica (a tal raiz). é como se o desequilíbrio mental lhe desse para me converter em apóstolo das reconversões negativas (como se a minha vida se resumisse a salvar os perdidos na tristeza).
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como convém a este último post, a extensão do texto por vezes apressa-se a adensar o monitor. dirão que não tenho mais nada importante a fazer. também a isso me habituei.
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em jeito de despedida, limito-me a limar arestas. a intervenção pública nunca foi muito a minha vocação. é minha responsabilidade, como de todos, escrever algumas indignações (olha que bom nome para um novo blog...) dar algumas ideias e apoiar manifestações. não foi minha intenção livrar-me dela. mas como existem muitos blogs com essa matriz, este nasceu diferente e não podia mudar a sua natureza. e também convém agradecer a todos os que colaboraram comigo. aos meus amigos que escreveram esforçadamente, e que se empenharam para tornar este espaço agradável. basicamente foram eles os primeiros a ler-me e a tornarem isto interessante. para todos um bom ano de 2010.
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como disse, não faz sentido insistir em algo que já preencheu o seu espaço. preencheu o vazio. cumpriu a sua missão. nada é mais triste que o definhar e quero que este blog morra com um sorriso nos lábios.
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e não se esqueçam, se um dia lerem um novo blog interessante, esse pode ser um eu-diferente.
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e pronto. o que se passou foi isto.
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13 comentários:
há ciclo de vida que não controlamos , mas que crescemos com os seus pontos de reflexão.
tal como sentimos necessidade desta partilha , também recuamos sobre ela.
por vezes também sinto essa necessidade de recatamento, há dias ...
mas foi um prazer.
ainda vou ficar por cá. até quando , não sei ...
aceita-se visitas
:)
Pois é: o blog ou se escreve por prazer ou então não vale a pena! E por vezes surgem novos projectos que fazem mais sentido e o tempo é limitado...
Bom ano de 2010 para ti! :)
Beijocas!
Até sempre. Espero então pelo tal blog interessante ;) beijinhos e feliz 2010.
tenho pena..foi uma forma de nos encontrarmos..e de eu passar algum do meu tempo, no tempo em que ele era imenso..
mas compreendo-te bem..
inté..
beijinhos.
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http://excombatentesdoarrozdofrango.blogspot.com/2009/12/proxima-luta.html
DIA 30 de Janeiro.
(Inscrições até ao dia 20)
Olá S.G.
Só hoje consegui tirar um tempinho para ler estas tuas palavras. Não esperava que fossem uma despedida, mas consigo entender-te ou pelo menos acredito que sim! Por vezes há que deixar partir o que já partiu...
E quem sabe se não voltamos a ler, por aí, um "eu-diferente", como tu bem dizes! :)
Aproveito para te desejar um excelente ano de 2010, com muitos projectos novos e também com muitas leituras!
Beijinhos
que venha rápido esse outro espaço, ou melhor, que seja rápido o tempo dele.
abraço*
salomé
Então aqui vão os nomes dos programadores escolhidos para a Capital Europeia da Cultura 2012, em primeira mão... Rui Massena, José Bastos, Rui Horta, Paulo Brandão, Dario Oliveira, Carlos Martins, João Lopes, João Reis, só não sei os outros 3...
convite para seguir a história de Alice , lá no --- continuando assim --- ainda vai no princípio :) espero que gostes
bj
teresa
Well... that's quiet interessting but actually i have a hard time understanding it... wonder how others think about this..
:-)
um beijinho
Não acredito que estive estes meses todos sem ler isto. Espero um dia tropeçar no eu-diferente . Saudades da tua presença.
Como já dizia margarida rebelo pinto, afinal todas as pessoas são como nós. E descobrirmos um mundo de um desconhecido.. e pensarmos que alguém descobre o nosso..
Fico à espera para conhecer esse novo blog. :)
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