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não vês a serra?
é um poema escrito em crescendo, arrasador, de força destrutiva, com o topo magestoso, um amparo a quem a sobe, é saber que nunca chegará lá cima de vez. é como a vida a caminhar num sentido circular. e o que poema nos traz de novo é a tonteria que nos carrega aos consfins do nosso sentido primordial. quantas vezes te arrepias ao ver uma montanha destas? a enormidade do poema é igual, deves temer a sua força. deves ter como perigosos os tentáculos de um poema, dos que estão escritos pelas penas mais sensíveis.
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não vês a serra? escuta as aves que te trazem o seu som, o som que vem do peito deste monte milenar, deste emaranhado pedregoso que nasceu num dia de rebeldia dos deuses. eles em cocílio decidem que tu deves em algum século assistir à sua grandeza, e com esta imagem perceberes que não somos donos do nosso destino. eles sim estão agora a escolher o que serei eu daqui em diante. se a tua mão não fosse a prova de que eles conspiram, então eu não sou mais crente. e entrego-me na justiça do dia-a-dia dos homens. destes homens que vivem do frio que a serra sopra nestas manhãs.
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não vês a serra?
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e enquanto eu escrevo as minhas linhas de inspiração, vens de cara ainda deslavada, e eu embrenhado nos meus pensamentos, procurando uma explicação divina para os meus sentimentos, nem te sinto. só ao toque das tuas mãos nos meus olhos quentes do sol, e na testa de rugas vincadas pelo esforço, caio de novo da porta do concilio em direcção a esta terra, de homens que trabalham e vivem de terra e água, e que trabalham de frio a pavio.
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e dizes-me solene e imponente,
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não vês a serra?
4 comentários:
Amanhã já vamos ver a serra... acho?!
Guess what?
Quem te terá ensinado a ver com olhos de poesia?
nada nasce do nada, tudo existe e apenas e só precisas da oportunidade. se ela existe então podes despoletar em ti turbilhões de inspiração.
guess what, o gato morreu de curiosidade...coitado.
:)Guess who?
ou nem tanto...
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