sexta-feira, 28 de novembro de 2008

profilaxia

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ora meus caros, em chegado o final da semana e dada a minha disponibilidade mental para voltar a escrever, queria começar por vos pedir que oiçam este andamento enquanto esperam que eu disserte sobre qualquer coisa. se é que realmente irão esperar. importa pois que estejam muito à vontade e, se não quiserem ler, pelo menos não perderam o tempo todo.
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certas semanas servem para aliviar desnecessárias pressões que imponho a mim mesmo. é o ritmo que necessito para me sentir vivo, mas em determinadas alturas é urgente abrandar.
sem desvirtuar a necessidade da filosofia na nossa vida, é preciso reconhecer que, regra geral, as coisas são até bastante simples. nós, que permanentemente nos fazemos acompanhar de um complicómetro, é que devemos observar o quadro paisagístico da nossa vida ao longe. a distância permite perceber as falhas, as debilidades e os erros. se não assumirmos e encararmos isso naturalmente, dificilmente daremos o passo necessário.
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depois há alegrias incomensuráveis. as que pela sua força se tornam desmedidas. se virem este vídeo, rapidamente perceberão que tipo de sensações experimentei depois do filme que mais aguardei neste outono. o meu êxtase está muito próximo do descrito por saramago. é muito bom terminar o filme e o livro e perceber que isto é uma obra prima, que algo de tão grande só pode ser imaginado, criado, engrandecido, manipulado e tornado estupidamente perfeito, por um grande escritor. e saramago é enorme. (sim. podem argumentar o que quiserem, lobo antunes e o resto dos escritores portugueses todos, que respeito muito - e leio muito em detrimento dos estrangeiros. sim podem argumentar o que quiserem. eu sei do que falo. aliás eu só falo do que sei - aproveito para começar o leilão do último livro do lobo antunes, envio a quem licitar ao melhor preço, ou dou a quem provar gostar muito)
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e assim o tempo, frio por sinal (ontem no estádio municipal de braga estava um frio que nem vos conto) passa mais consentâneo com as exigências naturais que fazemos à vida. e porque dizes isso homem justo, honesto, coerente e imparcial - pergunta a voz interior deste senhor? (sim, só pode ser a dele porque eu não tenho) digo isto porque a profilaxia (cá está a justificação do título) que adoptei é feita à base de barbitúricos literários e placebos poéticos.
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reconverto-me muitas vezes em militante acérrimo de teorias milagrosas. como se a planta imaginada (panaceia) existisse no meu quintal. admito também uma certa incoerência da natureza que me é difícil de suportar. as coisas que não existem, não podem ser cobiçadas. ao mesmo tempo que aquelas que existem, mas não as conhecemos, também não podem ser admiradas. pois eu que me admiro na tenacidade ideológica retiro-me do campo onde se movimenta o xadrez para não sucumbir a um qualquer xeque-mate psicológico. vai daí cerro fileiras em busca da paz inerente ao meu estilo próprio. não se trata de egoísmo, mas antes de um encapotado altruísmo.
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é um procurar não existir grandioso
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depois desprogramo os indícios de contaminação do fim-de-semana. administro a dose necessária de amnésia e volto ao início dos dias dos desejos sabotados pela imaginação.
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(muito sub-repticiamente volto a aconselhar um texto que merece a vossa atenção. diz coisas como esta "a minha escrita é um rumor da tua ausência" ou "e passo os dias neste processo de fingimento reduzindo-te a palavras")
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acaba por ser um contra-senso estar um texto todo a expurgar o mal menor do mundo, e terminar com estas palavras citadas. a intenção era somente mostrar-vos o que eu vou lendo, já que não vejo muita televisão e não posso opinar sobre os atentados recentes. lamentável. eu e os atentados somos lamentos vomitados ao mundo por um deus que vai jogando à roleta com as nossas vidas. felizmente vivo cada vez mais fora deste mundo. ainda agora estava a pensar que hoje e amanhã há promoções sérias e importantes. descontos para todos os melómanos prosaicos.
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de uma forma genérica resultou o esforço. eu debito palavras que vão do desconexo ao estapafúrdio. perco-me em caminhos desnecessários e à vezes exagero na diminuição da capacidade de surpresa. consigo desembaraçar-me de emaranhados de ideias entediantes que me assolam e liberto-me sem esforço do que considero ser uma espécie de pensamentos de minúcia eclética. o que resulta tantas vezes em tiradas ou aforismos de um certo brilho estético. (agora não me ocorre nada. mas aconselho esta frase de um blog que cito recorrentemente [vontade indómita])
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" [...] Por tudo isto, deveriam ensinar na escola: milagres só na Bíblia. E poupavam a todos os futuros adultos muito, muito trabalho. "

5 comentários:

nina disse...

há uns tempos atrás não concordava com esta parte dos milagres..mas agora não posso estar mais de acordo, alguém me podia ter ensinado q mlagres só mesmo na biblia..infelizmente!

S. G. disse...

olá minha querida amiga,

pensei que vinhas licitar o livro do lobo-antunes :-) se gostares posso oferecer-to no dia do nosso jantar de natal dos ex-jovens :)

quanto ao que eu digo, não ligues muito porque amanhã pode surgir um volte face e eu defendo com o mesmo rigor a ideia contrária :)

os milagres não se pedem. acontecem.
(ouve bem o chopin e vê se não percebes que os milagres podem acontecer)

bj

nina disse...

:-)
não é habitual, mas hoje estou com pouca confiança, daí a falta de crença...mas isto já passa..
um jantar de ex-jovens é mto boa ideia,a minha agenda tá mais q free..
bjinhos.

S. disse...

Tinhas sido um querido se tivesses começado o leilão há uns dias atrás!

Soube bem este pedaço de ideias habilmente encadeadas. O frio deste fim-de-semana fez-me trocar o cinema e esse filme obrigatório (apesar de não ter o Saramago em grande conta), pela ronha dos livros e dos filmes em casa...felizmente, sobrou-me tempo para esta paragem obrigatória :)

S. G. disse...

:-)

também teria tido muito gosto em ceder-te a obra, custa-me assumir quando me desiludem alguns livros. por isso dou s quem gosta.

é bom ficar por casa com este frio, mas ver e sentir a neve é muito melhor. montalegre estava um luxo melhor que a serra da estrela.

beijo e continuação de bons momentos caseiros.