terça-feira, 2 de dezembro de 2008

a casa da mariquinhas

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o que mais custa aceitar com o avançar da idade é a perda da qualidade da beleza. é sintomático que a dada altura, principalmente nas mulheres, o adiantar da vida se revele por algo diametralmente oposto ao que se define como parâmetro de beleza. e os espelhos são os maiores culpados. a imagem de alguém que se deprime a olhar para o espelho diariamente, num exercício incompreensível de recuperar os anos perdidos, é-me absolutamente misterioso. não vou escrever o lugar comum de que a moda se arvora como a medida certa, nem irei dizer que os estereótipos vincados pelas mais variadas formas de comunicação e imagem são obstáculos que impedem uma saudável convivência pós-moderna. prefiro procurar entender a perspectiva de quem se deixa diluir pela necessidade consumista, procurando nesse exercício um estímulo emocional.
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(não vou imiscuir-me em assuntos profundos da filosofia pós-moderna, até porque continuo sem ter tido tempo para ler a felicidade paradoxal - ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo de lipovetsky. sendo assim passo ao que me levou a escrever hoje)
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a imagem que guardei deste filme é um pouco essa, a de que o declínio começa na imagem, no poder que ela dá (e tira) a algumas pessoas, na vida de felicidade aparente (paradoxal para lipovetsky). a viciação na imagem, a procura de incentivos visuais, a crença numa sempiterna juventude - qual elixir da juventude - torna-se no óbice maior da felicidade aproximada a que poderemos aspirar.
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o filme que assisti ontem em ante-estreia em braga, mostra essa queda para o fatalismo dos que ascendem a estados de pomposidade especial, e dentro desse mundo de sucessivas expectativas, se deixam cair em desgraça psicológica em determina altura de decadência. o filme amália (com um argumento bem amanhado - co-escrito por este blogger e escritor) é uma boa surpresa que recomendo. não posso deixar de estabelecer certos paralelismo na montagem do enredo com o filme acima citado. há um passado a que não podes fugir (uma infância marcante) e um futuro que pode estar à distância de um desejo. amália foi (é) um ícone para todos, e não será desvendando um passado de incertezas e erros amorosos que ficaríamos com outra imagem. e ela sofreu com o desmascarar do corpo pelo tempo. recomendo vivamente, porque está bem escrito, bem dirigido, com uma ou outra excelente interpretação, e porque é português. não é todos os dias que temos oportunidade de ver um filme nacional com tanta qualidade. a partir de 5ª feira nos cinemas.
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barco negro
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De manhã temendo que me achasses feia (de manhã que medo),
Acordei tremendo deitada na areia (acordei tremendo),
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o Sol penetrou no meu coração [...]
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estranha forma de vida
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Eu não te acompanho mais:
pára, deixa de bater.
Se não sabes onde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais
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1 comentário:

Teté disse...

Pois é verdade, vejo muito pouco cinema português. É um bocado como os livros, não se conseguem ler todos, há que escolher os que parecem ser mais do nosso agrado.

E como de filmes portugueses, depois da década de 40 com o António Silva, Vasco Santana e outros, só gostei de dois ou três (Kilas, o mau da fita e Sem sombra de pecado, mas pode ter havido mais algum que agora não me recordo), pois, ficam sempre no fim da lista das prioridades.

Aliás, há cerca de um mês que não vou ao cinema e já perdi um filme que me foi recomendado vivamente...

C'est la vie!

Jinhos!