quinta-feira, 26 de julho de 2007

Queres falar? (5)

(vamos os dois de eléctrico. o tempo está abafado e custa-nos respirar. contudo vamos entrar na mata e refrescam-se os pulmões a cada inspiração. temos as mãos dadas. Suam as mãos juntas porque nunca as largamos. é novo este amor e não queremos deixá-lo fugir. sentes que são amarras que aprisionam a paixão. não são. eu sei que já não há nada que me faça acreditar nisso. mas estás feliz e eu feliz fico com brilho nos teus olhos.)

- já conhecias isto?
- não. sintra já conhecia, mas o castelo não.
- sabias que filmaram aqui uma parte do filme “a canção de Lisboa”?
- não sabia. nem conheço o filme.
- é romântico. Tem um final feliz. Mas ele é um boémio e mulherengo, convertido.
- mas quem fez o filme não sabe que um boémio nunca é romântico, nem se converte.
- não sei, alguns devem ser. pelos menos o Vasco Santana foi, no filme.
- dás-me um beijo?
- claro. Mas só queres um?
-…
- sabias que eles vinham aqui no dia do casamento?
- quem?
- o vasquinho, no filme.
- ah! Pois é romântico não era?
- eu se calhar um dia gostava de casar.
- humm…eu não sei…se tu quisesses eu não te diria que não.
- vamos trocar de mão.
-…
- “que negra sina ver-me assim, que sorte vil e degradante…”
-…
- às vezes tenho saudade da faculdade.
- parece que foi ontem. mas já lá vai. hoje tenho-te a ti.
- e eu a ti…
- até quando?
- isso só nós é que sabemos…
- para sem...? (shiu)
- não digas essa palermice.
- porquê?
- nada dura pr'a sempre.
- dá-me antes um beijo…
- um só?

- não. vamos por ali, que eu quero te contar um segredo.


(está fresco o ar. se o trote fosse mais lento faria menos barulho. mas vamos a descer e eu não me importo. haveremos de chegar lá. e rápido. descer e subir ao andar e jantar. e deitarmo-nos nos teus sonhos e descansar na minha descrença. é este o nosso verão. Por isso me refrescas. porque está calor.)

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