terça-feira, 31 de julho de 2007

viagem ao fim

(fechei os olhos e respirei pouco. não aguentei o cheiro. era já o terceiro dia. o estômago a dar horas e eu ali à espera. respirei só mais um pouco. depois passei junto ao cadáver. estava quieto e sossegado. parece em descanso. mesmo descansado. feliz não direi, mas às vezes não se sabe. nunca sabemos o que está para lá da linha. fechei os olhos e beijei-lhe a testa. estava fria. mas ele continuava descansado e mesmo frio não parecia estar muito preocupado. feliz não sei se estaria.)

- que pena. parecia tão bem e de repente, foi-se.
- foi de cancro. mal ruim é assim, vem num ápice.

(mesmo que oiça tudo à minha volta não me importo. não quero ouvir. estou já em paz comigo mesmo. já cumpri a minha parte. se ele descansar em paz eu também estarei assim. vou sair sem que ninguém repare. vou para casa descansar. e comer que o estômago estava a pedir. vou fechar os olhos e esquecer. amanhã tenho que ir trabalhar. e não faço ideia onde pus a minha carteira.)

amanhã a vida continua.

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