quarta-feira, 1 de agosto de 2007

viagem ao fim (2)

(o dia mais chato é o domingo. às vezes fico todo o dia na cama. outras saio. e hoje saí. passeei pela costa respirei o mar e depois fui parar na esplanada. parei também na tabacaria. comprei cigarros e o jornal. mais fósforos. depois segui sem rumo à procura de um sítio mais fresco. foi na avenida que uma brisa me parou. o cheiro que me chegou foi um pouco nauseabundo. olhei em volta e depois percebi. era um mendigo. estava sentado junto de uma caixa de multibanco e não pedia. ou pedia. mas calado só com o chapéu estendido. tentei olhar com mais atenção. reparei que a existência humana às vezes não podia ser mais cruel. desumana. ele era desprovido de vida. só respirava. via isso pelos bichos que tinha na pele junto à barba. e tinha ainda saliva num canto da boca. suja. imunda. depois vi que tinha cera nos ouvidos. mais triste não seria este desgraçado. o gato que ele tinha lambia-lhe de vez em quando as orelhas. aquilo nem me repugnava. era o mesmo que ele não existisse. eu fechei o jornal e dei-lhe uma moeda. olhou para mim e vi o deserto que tinha nos olhos. aridez. o nada.)

Arranjei um carro novo nos classificados.

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