quarta-feira, 12 de setembro de 2007

rendição incondicional...

" Aconchegada no seu ombro, deixava que os dedos deslizassem por aquele braço, interrompidos aqui e ali, nalgum pedaço surpreendente de pele. Estendia as pernas. E os dedos, livres de sapatos, sentiam o tapete áspero, descobriam pedaços de areia solta de fim de verão e uma pétala de buganvília esquecida. A última vez que pusera os pés no chão estava ainda à porta de casa. I've never known what's good for me. Ali à frente, numa sucessão de clarões e sons, com três metros de altura e muito sorridente, já não estava uma actriz desconhecida, antes a sua sala. Abriu a janela do carro, tão depressa, só para ter a certeza de ser também sua, a voz que ecoava. Era sua e falava de borboletas brancas com uma única pinta preta. Não sabia em que lugar estaria, da próxima vez que calçasse os sapatos. Tudo aquilo com que cada um de nós consegue viver. Desenhara limites e imaginara-se desse modo. Depois, numa tarde qualquer, descobria-se deste modo. Como se uma faca cortante separasse a pele, silenciosamente. Com um impulso voava e já não ouvia a voz que a chamava, que a abraçava, e nem sentia uma perna forte que se apoiava com força na sua. Just keep telling me facts and keep making me smile. Enquanto voava, voltara a sentar-se no carro, agarrara a mão de dedos esguios pousada no volante e levava alguns daqueles dedos à boca, sentia-os e dizia-lhe baixinho, sorrindo, gosto da força de tudo aquilo com que cada um consegue sonhar."


Por Abbie

via [com a luz acesa]
encontramos em [escrita causual]

1 comentário:

Anónimo disse...

Ficam bem aqui também, estas palavras.