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à medida que subimos (em metros medidos por pés) a temperatura desce. o ventos sacodem as asas e os motores seguram a rota definida. o arranque estrépito e os desatinos momentâneos da estratosfera, mostram o longínquo arfar do coração da terra. é o céu normalizado com as afluências de núvens instáveis.
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(não sei se há paralelo com a vida ou com o resto dos dias. certamente que quando subimos na vida não sentimos a vertigem dos graus celsius. nem vemos os estranhos objectos nubulosos que retraem as escolhas.)
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parecemos destituídos de razão. da palavra história resvalamos na tensão de um cadafalso. a rotina acidental reprime o relaxe e a distenção muscular. cerram-se dentes a cada simulação de queda vertiginosa, sentimos no estômago a tortuosa imagem de fogo devastador de outras paragens.
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(a morte, escrita por extenso, é sinalizada ao aviso sonoro que nos obriga a voltar a pôr o cinto de segurança.)
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não escrevo nada no livro de registo. quero preservar apenas o que a memória me quiser oferecer. distraio-me facilmente com a história que vou lendo. as palavras do escritor, registos de viagem curiosamente - embora menos confortável que a minha - dão-me a necessária concentração para enfrentar este novo territótio inóspito. como se um lugar passasse a existir a partir do momento em que o vemos.
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(a ilha da madeira, perdida no mar, fixa nos dentes de monstro quinhentista ancorado ao largo da minha imaginação, passa nestes dias por uma fabulosa turbulência de temperatura. é verão digo eu. e digo bem.)
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à distância, esta manta que me cobre os pés, recolhe os escombros da brusquidão do embate com aquela terra. talvez as peças do puzzle se encaixem um dia.
2 comentários:
Ah, sempre que posso evito pôr o meu pezinho nessas maquinetas voadoras... mas nem sempre é possível, está claro!
Bom regresso ao "batente"! :)*
:)
regresso com trabalho em força, para pôr em ordem. é isso que nos dá novamente a possibilidade de viajar.
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