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é horrível a matéria. ter de tocar estes assuntos aflige-me a alma. chateia-me. não gosto de repetir que me sinto um homem de sorte - já dou aqui de borla as coisas das quais ninguém imagina o peso - correndo o risco de me pintarem como um pedante do destino.
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a verdade é que me acorrento às minudências da vida como se elas fossem os solavancos imprescindíveis à evolução. o conceito que eu tenho de felicidade está tão próximo de banal que me questiono tantas vezes se não estarei a enganar-me. sabem, as respostas chegam cobertas da mesma certeza, o que eu sinto é a urgência do tempo, e como não o posso parar ou abrandar, o melhor é mesmo aceitar.
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mas mais do que a proximidade da não-resposta permanente para o que é a felicidade, eu alinho em apreciar o que tenho na verdade. querer mais permanentemente falseia a realidade, denigre a conquista, deprecia o valor do que tens em mãos, distancia-te do real, eleva-te ao estado amofinado e de enfado.
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(interrompo este pensamento só para vos aconselhar este magnífico blog, da fátima rolo duarte. se alguém me mostrar um único blog em portugal que seja melhor que este, no seu global, na estética, grafismo, texto e criatividade, fico muito agradecido)
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como dizia, custa-me falar sobre a minha facilidade em aceitar contratempos. estou demasiado moderado para reclamar ou para protestar. ainda hoje me avariou o carro a caminho do trabalho, e eu o que faço? ponho o rádio mais alto e fico a ouvir boa música enquanto espero pelo meu mecânico, de sorriso largo - e colete reflector - mas com a bonomia de quem já não trabalha para as úlceras nervosas. e o que não tem remédio, remediado está (garanto-vos que há uns anos atrás era capaz de dar três bons pontapés ao carro, dizer todos os nomes feios do dicionário, e ainda exigir a presença do santo-ofício para julgar as trinta putas que me amaldiçoavam) hoje sou incapaz de dizer a palavra putas.
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é horrível a matéria. aceito que haverá quem diga que se tenho sorte era difícil sentir-me de outra maneira. pois é meus caros, a razão assiste ao argumento que exponho a seguir. eu acredito na teoria da compensação universal (isto não existe na wikipédia, acabei de inventar o título - embora se pudesse chamar teoria boomerang) ou seja, de cada vez que nos acontece algo de mau, o universo vai-se encarregar de te repor com algo bom (venham de lá os destiladores de ódio ao esoterismo paulo coelho destas minhas palavras).
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o que olho a medo é para os momentos em que decidi a minha vida e nem sequer me apercebi da importância do que me acontecia nesses momentos. felizmente a imprevisibilidade dos acontecimentos ordena-se de forma positiva para mim. e se hoje não tenho palavras para o momento subime que vivo, é porque a minha teoria está correcta.
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1 comentário:
eu acho que tens razão.
eu acho que o que vai, volta.
eu acho que a paciência é a mãe de todas as virtudes (essa e a capacidade de não se fazer perguntas quando não se quer as respostas).
eu acho que há um equilibrio que nos rege. que hoje nos faz sorrir eolhar o ceu,de olhos ofuscados pelo sol e que no momento a seguir nos faz pisar caca de cão para não nos esquecermos que devemos olhar para onde metemos os pés.
não sou tão poética e eloquente como tu.
mas concordo contigo.vale o que vale.
que o sublime seja completo, duradouro, intenso e inesquecível.
tudo isso embrulhadinho em ti.
eu acho que tens razão. não fosse eu já conhecedora desse efeito boomerang...
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