sexta-feira, 3 de abril de 2009

equações da sandice [7]

[1627]

dá-me para ler certas coisas que me entram pelo olho dentro. descobri esta entrevista, e deixei-me estar na cadeira a ouvir (note-se a diferença) estes dois senhores numa conversa amena. é agradável perceber que não podemos deixar crescer um mito. estas pessoas que admiramos pela sua inteligência, são simples humanos como nós que buscam a razão de viver como todos nós. de preferência com um bom garfo, uma bom vinho, uma boa conversa.
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em larga medida admito que me delicio como eles desarmam a vida e a razão porque se deve ler. é verdade que a máxima expressada por mec nesta conversa é a que eu professo para mim. aceitar o que temos.
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" [...] Porque é que lês?
Para além de gostar, porque é a forma mais económica de conhecimento. É uma forma de roubo. Um gajo está dois anos a escrever um livro e tu lês aquilo numa noite, percebes? É roubar. É como roubar num supermercado.
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Mas há sempre aqueles que dizem que lêem porque querem ser pessoas informadas, e mais isto, e mais aquilo. Tretas. Tudo tretas.
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Essas pessoas não sabem o que verdadeiramente perdem. É como comprar um livro de viagens para depois ir conhecer o sítio. É ridículo. Os livros servem sobretudo a nossa curiosidade e também um sentimento de controlo que todos temos. Tu, ao leres um livro, és um pequeno deus. [...] Isso não acontece na vida real, essa possibilidade de escolha."
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ao ouvir isto sinto que não há necessidade sequer de explicação do gosto pela leitura. nem para a vida com todas as suas contingências,
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" [...] Há uma frase neste teu último livro que é muito interessante. Escreves tu: «A única atitude inteligente diante da vida é aceitá-la, o que significa aceitar que não é compreensível, previsível ou homogénea». Tu já chegaste mesmo a esta reconciliação contigo próprio?
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Eu acho que é inato. A minha mãe é muito conservadora e esta atitude de aceitação é-nos inculcada. Aceitar é assim: eu não compreendo isto, paciência. Eu não sei consertar o candeeiro, paciência. Tento fazer um prato qualquer, não consigo, vai tudo para o lixo, paciência. Aquela atitude de «não vou desistir, lutarei até ao fim», isso é uma estupidez. Nós somos muito limitados no nosso tempo. Sabemos muito pouco. E isso dá uma grande alegria. [...]"
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salvé mestre mec. em cheio. no relativizar é que está o ganho.
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" [...] Temos de aceitar que somos limitados. Não somos suficientemente inteligentes para saber tudo, perceber tudo. É preciso saber viver com isso. Eu também gostava de ter sido guitarrista mas não tinha talento nenhum. E hoje penso: que falta faz um guitarrista neste país? E neste mundo? [...] "
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ainda bem que há quem pense como eu.
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