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florentino ariza não morreu de amor. morreu a dormir num dia de calma subida do rio
estava sentada na sala de estar, junto a uma janela que deixava adivinhar o calor insuportável tanta era a luz que entrava junto do seu corpo.
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(a imagem é a da amargura de fermina urbino)
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o cheiro que ainda paira no ar desde o dia da morte de florentino ariza, é um cheiro a amor cadavérico. fermina, uma envelhecida beleza, não se olha ao espelho há um mês e nem imagina a sua degenerativa efígie a que assistem os transeuntes.
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as mãos tremem com a primeira carta,
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" minha crisálida,
estás tão longe da minha vista que quero adivinhar-te reservada no casulo que teci. guardo a tua foto desde o dia em que nos separou o pretérito imperfeito.
mesmo estando a esta distância, hoje sonhei-me ao pé de ti nessa paris das luzes. mão dada, claro, e avenida desimpedida.
dá apenas o teu corpo. não dês o teu coração.
aguardo-te.
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florentino ariza"
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o silêncio seco deste calor de verão, enrola-se no corpo vestido de negro e o suor desce suave pelas sulcadas marcas da idade.
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(tudo isto nos impede de ver as lágrimas)
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deixemo-la a sós
4 comentários:
De carta de amor para carta de amor:
http://literaturaemanalise.blogspot.com/2005/11/carta-de-antnio-lobo-antunes-maria-jos.html
Este livro, como todos os outros do autor, é maravilhoso! Apesar das suas imensas páginas, lê-se num piscar de olhos!
O escritor não me contou essa parte e quando a última linha chega ao fim lamento não haver mais... Por isso, gostei de ler este teu fim da história. :)
a semana passad li mais um, "crónica de uma morte anunciada". fabuloso. não há palavras.
e o final da história ainda virá mais adiante. espero continuar a escrever mais algumas coisas.
Engraçado eu também li esse na semana passada. :) E quase que aposto que o teu (tal como o meu) é da colecção da revista Sábado! :)
A história é tão pequena que se lê numas horas, mas é mais uma história bem construída e fantástica.
Ai o final ainda não terminou!? Ainda há mais? Então fico aguardar. :)
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